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    Rogerio Chequer

    O aniversário de duas desgraças

    23/11/2017 13h20

    Pedro Ladeira - 20.nov.2016/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 20-11-2016, 16h00: Integrantes do Vem pra Rua e de movimentos contra a corrupção fazem protesto em favor das 10 medidas contra a corrupção em frente ao Congresso Nacional na tarde de hoje. Debaixo de uma chuva fina pouco mais de 100 pessoas com faixas e cartazes gritaram palavras de ordem em defesa do Juiz Sergio Moro e da operação Lava Jato. Eles também pedem a prisão de Renan Calheiros, presidente do senado, e criticam a proposta de Renan da Lei de Abuso de Autoridade. Cartazes com fotos dos deputados contrários e indecisos em relação à lei das 10 medidas contra a corrupção, que deve ser votada na comissão especial essa semana, também foram expostos. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    Integrantes do Vem pra Rua e de movimentos contra a corrupção protestam no Congresso

    A próxima quarta-feira marca o primeiro aniversário de um dos maiores escárnios da história da República brasileira.

    Em 29 de novembro de 2016, no clímax da tragédia da Chapecoense, a Câmara Federal aproveitou-se de uma nação chocada e passou a madrugada votando para preservar privilégios e imunidade. Antes do raiar do dia, uma maioria de deputados destruía, com eficiência legislativa sem precedentes, um projeto de lei de iniciativa popular que havia recolhido mais de dois milhões de assinaturas da sociedade brasileira.

    É verdade que o pacote proposto trazia propostas polêmicas em duas ou três medidas. Mas os deputados perderam o que poderiam ter de razão ao usarem requintes de crueldade para ignorar e trucidar todos os aspectos da vontade popular. Sem qualquer vergonha, aprovaram por unanimidade um parecer a favor do pacote na Comissão de Constituição e Justiça. Era uma armadilha. Na hora de votar, invalidaram todo o pacote. No bolo, aniquilaram medidas almejadas há décadas, que poderiam mudar para sempre as práticas nefastas dos piores criminosos políticos do nosso país. Ainda não saciados com a barbárie, fizeram mais, ao longo da madrugada: incorporaram à votação itens que limitavam a atuação do Judiciário na investigação e punição de criminosos, da estirpe dos deputados e auxiliares do presidente que foram, poucos meses depois, pegos em flagrante.

    Para se ter uma ideia da magnitude da cara de pau, naquela madrugada, 131 deputados federais votaram a favor de TODAS as emendas que destruíam o espírito das dez medidas anticorrupção e concomitantemente a favor de todas as medidas que limitavam a atuação do Judiciário. Outros destruidores espalharam um alívio aqui e outro acolá. O resultado final foi uma pá de cal na vontade popular.

    Um ano depois, a mesma Câmara debate outro projeto que trata da forma como parlamentares, assim como outros 55 mil privilegiados, devem ser julgados em caso de crimes comuns. O fim do chamado foro privilegiado já foi amplamente discutido e votado no Senado, que o aprovou por 69 votos a zero, num processo penoso de quatro anos e meio, já debatido nesta coluna. Seria muita vergonha nossos nobres deputados, depois disso, contrariarem votação unânime dos senadores, não é? Pois, pasme, eles estão buscando outras formas de melar o projeto, ao ameaçar fazer alterações que o obrigariam a voltar ao Senado, para nova apreciação, numa escancarada estratégia de postergação.

    São esses os deputados ditos representantes do povo, que pedirão seu voto novamente no ano que vem. Para impedir que o façam sem que você esteja ciente de como (não) têm prestado seus serviços ao país, faremos ao lado de outros movimentos um ato em Brasília para refrescar a memória do que aconteceu há um ano, naquela fatídica noite de novembro, quando a Câmara deu uma enorme banana à sociedade.

    Estamos de olho, tudo está sendo registrado e será trazido de volta em 2018, quando a sociedade terá a chance de tirar do poder esses parasitas que impedem qualquer mudança que os tire da zona de conforto privilegiada. Acompanhe e participe desse processo de cidadania, pois está em suas mãos não termos outros 29 de novembros no futuro.

    rogerio chequer

    Escreveu até dezembro de 2017
    rogerio chequer

    É sócio da empresa SOAP. Engenheiro de produção pela USP, atuou por 18 anos no mercado financeiro e foi líder do Movimento Vem Pra Rua nos últimos três anos.

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