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    Rogério Gentile

    Vacina política

    03/01/2013 03h30

    SÃO PAULO - Ano Novo, falação nova. Prefeitos das principais cidades do país tomaram posse anteontem com discursos bem diferentes daqueles que os elegeram. No lugar do otimismo contagiante das campanhas, preocupação com a situação econômica. Em vez da metralhadora giratória de promessas, pedidos de ajuda e cortes de gastos.

    Fernando Haddad (PT) é um dos principais exemplos. O petista arrojado da propaganda política, que, com passos firmes e mangas arregaçadas, olhava para a câmera e dizia coisas como "eu sei como fazer", "São Paulo precisa de mais em menos tempo" e a cidade necessita "de um prefeito com ideias novas", ficou lá no horário eleitoral.

    Agora, ao assumir, Haddad declarou que as "tarefas não são simples" e que "não há a menor condição de levar à frente esse grande empreendimento que é a nossa cidade sem renegociar a dívida municipal". Como assim, não há a menor condição? O "homem novo para um tempo novo" vai deixar tudo para depois?

    Vale notar que Haddad, ao dizer que "não há condição", repetiu Kassab, seu antecessor, aquele que o petista da campanha afirmava estar no "rumo errado". Kassab passou os últimos anos reclamando de que a dívida, "impagável", engessara a capacidade de investimento da prefeitura. E, por pelo menos quatro vezes, tentou renegociá-la com o governo Dilma. Sem sucesso algum.

    Assim como Haddad, ACM Neto (DEM), em Salvador, é outro prefeito que mudou o tom da sua fala após a posse. Se, na campanha, dizia que havia chegado a "hora do povo" e que era "possível fazer muito mais", agora afirma que precisará "tomar medidas duras e até impopulares".

    É claro que fazer campanha é uma coisa e governar é outra. Mas, como ninguém pode alegar que não sabia das dívidas das capitais e dos "pibinhos" dos anos Dilma, os discursos cautelosos servem de vacina para justificar as várias promessas que eles não vão cumprir.

    rogério gentile

    Escreveu até março de 2016

    Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".

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