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    Rogério Gentile

    Depredação livre

    20/06/2013 03h30

    SÃO PAULO - A redução no preço da tarifa não pode encobrir o fato de que o centro de São Paulo virou terra sem lei na noite de anteontem, tomada por vândalos travestidos de manifestantes e abandonada pela polícia. Houve ataques a prédios públicos, saques a lojas e depredações.

    A escalada da insensatez começou na quinta-feira passada, quando a polícia "arrepiou" um protesto pacífico. Todo o mundo apanhou: manifestantes bem-intencionados, manifestantes mal-intencionados e até mesmo não manifestantes.

    Até então, embora a maioria da população simpatizasse com a causa original dos protestos (a redução das tarifas), havia uma ampla crítica às cenas de vandalismo protagonizadas dias antes por mal-intencionados, que, destruindo ônibus, metrô e pichando muros, imaginam estar promovendo a "revolução".

    Pois Alckmin conseguiu perder a opinião pública. A pancadaria da polícia acabou por criar um sentimento generalizado de indignação, destampou insatisfações, ampliou muito a adesão ao movimento e o exportou para várias cidades.

    E isso nitidamente acuou autoridades, que, desde segunda-feira, permitiram, não apenas em São Paulo, que os protestos avançassem para além do que pode se considerar aceitável numa democracia. A Assembleia do Rio foi depredada, o diretor-geral da Câmara dos Deputados foi agredido, agências bancárias foram quebradas em Porto Alegre e a Prefeitura de Belo Horizonte foi atacada.

    Apesar de toda a poetização em torno do Movimento Passe Livre, e da efetiva redução na tarifa, é necessário registrar que seus líderes não condenaram enfaticamente os atos de vandalismo. Muito pelo contrário, os justificaram com o argumento de que eram fruto da "revolta popular" ou resultado da "intransigência" do poder público. Resta saber se o recuo de Alckmin e Haddad, um dia após a vandalização do centro, não servirá de estímulo para esse tipo de "método" de negociação.

    rogério gentile

    Escreveu até março de 2016

    Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".

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