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    Rogério Gentile

    O mistério dos ingressos da Copa

    03/04/2014 03h30

    SÃO PAULO - Por temer angariar ainda mais antipatias, a Fifa mantém sob sigilo os dados sobre o destino dos ingressos para os jogos do Brasil na Copa do Mundo. Mas uma coisa é certa: os torcedores comuns, que obtiveram uma entrada por meio de sorteio ou por ordem de chegada numa fila virtual, vão ocupar menos da metade dos assentos nos estádios.

    A Copa terá 64 partidas, 32 seleções e capacidade para 3,334 milhões de espectadores. Aos torcedores comuns a entidade destinou 45% dos ingressos. Patrocinadores, autoridades (e seus parentes, é claro), convidados VIPs, dirigentes e amigos de dirigentes terão à disposição uma cota de 35% das entradas.

    Outros 13% são para torcedores de luxo que, instalados em camarotes com preço cotado em dólar, terão direito a drinques, serviço de buffet, suvenires e vaga em estacionamento. A semifinal em Belo Horizonte, por exemplo, ainda está à venda por US$ 6.350 (R$ 14.414,50). O resto vai para emissoras de televisão, jornalistas e operários que trabalharam nas obras dos estádios (7%).

    A distribuição acima considera a média dos jogos, incluindo "micos" como Bósnia x Irã, que despertam obviamente pouco interesse de políticos e dos 20 patrocinadores da Fifa. Alguém imagina, por exemplo, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN), pegar um jatinho da FAB a fim de levar parentes e amigos a Curitiba para assistir ao grande clássico entre Equador e Honduras?

    Ou seja, embora a Fifa não revele os números e tenha, inclusive, estabelecido multa contratual para as empresas patrocinadoras que divulgarem detalhadamente suas cotas, é legítimo inferir que, para os jogos da seleção brasileira, a quantidade de bilhetes oferecidos para o torcedor comum seja menor do que a média divulgada. Quem conseguiu ingresso para ver Neymar "in loco", se não é "gente grande" ou "amigo de alguém", bem pode dizer que ganhou na loteria.

    rogério gentile

    Escreveu até março de 2016

    Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".

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