SÃO PAULO - Por temer angariar ainda mais antipatias, a Fifa mantém sob sigilo os dados sobre o destino dos ingressos para os jogos do Brasil na Copa do Mundo. Mas uma coisa é certa: os torcedores comuns, que obtiveram uma entrada por meio de sorteio ou por ordem de chegada numa fila virtual, vão ocupar menos da metade dos assentos nos estádios.
A Copa terá 64 partidas, 32 seleções e capacidade para 3,334 milhões de espectadores. Aos torcedores comuns a entidade destinou 45% dos ingressos. Patrocinadores, autoridades (e seus parentes, é claro), convidados VIPs, dirigentes e amigos de dirigentes terão à disposição uma cota de 35% das entradas.
Outros 13% são para torcedores de luxo que, instalados em camarotes com preço cotado em dólar, terão direito a drinques, serviço de buffet, suvenires e vaga em estacionamento. A semifinal em Belo Horizonte, por exemplo, ainda está à venda por US$ 6.350 (R$ 14.414,50). O resto vai para emissoras de televisão, jornalistas e operários que trabalharam nas obras dos estádios (7%).
A distribuição acima considera a média dos jogos, incluindo "micos" como Bósnia x Irã, que despertam obviamente pouco interesse de políticos e dos 20 patrocinadores da Fifa. Alguém imagina, por exemplo, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN), pegar um jatinho da FAB a fim de levar parentes e amigos a Curitiba para assistir ao grande clássico entre Equador e Honduras?
Ou seja, embora a Fifa não revele os números e tenha, inclusive, estabelecido multa contratual para as empresas patrocinadoras que divulgarem detalhadamente suas cotas, é legítimo inferir que, para os jogos da seleção brasileira, a quantidade de bilhetes oferecidos para o torcedor comum seja menor do que a média divulgada. Quem conseguiu ingresso para ver Neymar "in loco", se não é "gente grande" ou "amigo de alguém", bem pode dizer que ganhou na loteria.
Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".