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    Rogério Gentile

    Investigação com pegadinha

    17/04/2014 03h30

    SÃO PAULO - Embora o procurador–geral da República, Rodrigo Janot, não se tenha dignado até agora de dizer uma só palavra sobre o assunto, é muito perturbadora a notícia de que o Ministério Público mentiu à Justiça para rastrear as ligações telefônicas do Palácio do Planalto e do seu entorno, o que inclui o Congresso e o próprio STF.

    Com o objetivo de apurar se José Dirceu usou telefone celular no presídio, o que é proibido, para falar com um político, a promotora Márcia Milhomens Sirotheau Corrêa disse ao STF que precisava confrontar ligações realizadas por aparelhos celulares que se encontravam no presídio com outros na Bahia. Sorrateiramente, no entanto, incluiu no pedido à Justiça as coordenadas geográficas da região da praça dos Três Poderes.

    O método "pegadinha" da promotora lembra o de um antigo colega, Luiz Francisco de Souza, que ficou famoso nos anos FHC. Ex-seminarista, ex-militante do PT, o procurador circulava por Brasília em um fusca enferrujado, carregado de livros, que o ajudava a manter a aura de um abnegado missionário da ética, implacável caçador de corruptos.

    A máscara de Luiz Francisco começou a cair quando se descobriu que o procurador havia incluído indevidamente o CPF de um adversário num pedido de quebra de sigilo fiscal e bancário de uma outra pessoa. O sujeito não tinha relação alguma com o alvo da investigação. Tratava-se de contrabando puro.

    A promotora Márcia não é famosa por dirigir um carro velho, tampouco teve atuação política conhecida. Mas, assim como Luiz Francisco, parece ter apreço pela sentença segundo a qual os fins justificam os meios.

    O Ministério Público, que só não perdeu seu poder de investigação no ano passado por causa dos protestos de junho, quando a Câmara derrubou a PEC 37, deveria preocupar-se mais diante desse tipo de mentalidade e atuação. Casos assim podem servir de mote para o Congresso esvaziar a instituição.

    rogério gentile

    Escreveu até março de 2016

    Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".

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