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    Rogério Gentile

    Antes tarde do que nunca

    08/01/2015 02h00

    SÃO PAULO - Alckmin finalmente começou a tratar a crise da água em São Paulo de forma compatível com a gravidade do problema –os riscos de impactos na saúde pública, na produção de alimentos e na própria economia não são desprezíveis.

    Depois de oito meses de hesitação, o governador autorizou a cobrança de uma sobretaxa para quem utiliza água em demasia –em meio à crise, 24% dos consumidores ampliaram os gastos. Com o sistema Cantareira com 6,8% de sua capacidade, São Paulo precisa reduzir drasticamente o consumo.

    Além da sobretaxa, Alckmin escolheu para o comando da Sabesp um técnico muito respeitado, o engenheiro Jerson Kelman, que começou a traçar um plano de emergência, "torcendo pelo melhor, mas preparando o Estado para o pior", segundo as suas próprias palavras.

    O governador fez a indicação mesmo sabendo que Kelman fizera críticas públicas ao modo como o sua gestão conduzira o assunto em 2014. No final do ano, Kelman disse que, em razão da eleição, São Paulo não alertou corretamente a população sobre a crise. "Sob o ponto de vista de governo, de interesse público, a atuação não foi a melhor, desperdiçou-se água e os reservatórios estão mais vazios do que deveriam."

    A razão para Alckmin ter apenas tangenciado o problema durante a eleição é simples. Pesquisa Datafolha feita em outubro mostrou que a população não sabia ao certo de quem era a responsabilidade administrativa sobre o assunto –53% diziam que era do governo federal e da prefeitura. Se o governador tivesse feito barulho sobre a crise, teria dirimido a dúvida geral, criando dificuldades para a sua reeleição.

    Alckmin não se arriscou, mas potencializou os riscos para São Paulo e poderá pagar caro por isso lá na frente. Por ora, diante do fato consumado, a mudança de atitude do governador, ao menos, serve como consolo. Como diz o ditado popular, antes tarde do que nunca.

    rogério gentile

    Escreveu até março de 2016

    Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".

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