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    Rogério Gentile

    Traído de novo?

    12/02/2015 02h00

    SÃO PAULO - Lula destravou a porta de emergência para o caso de as investigações sobre o petrolão confirmarem que o seu PT foi mesmo beneficiário de dinheiro desviado de contratos da Petrobras.

    Em encontro em Belo Horizonte para comemorar os 35 anos da legenda, Lula disse que, "apesar de todo alarido, não há nenhuma prova contra o PT, nenhuma doação ilegal, nenhum desvio para o partido", mas fez uma ressalva estrategicamente importante: "Se algo de concreto vier a ser encontrado, se alguém tiver traído a nossa confiança...".

    No dia anterior, a imprensa noticiara que, em depoimento à PF, um ex-gerente da Petrobras afirmou que o PT havia recebido entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões de propina por contratos na estatal e envolveu o atual tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, no suborno.

    Na reunião do PT, Lula não citou o tesoureiro, que nega todas as acusações, mas fez questão de dizer que a sigla se tornou um partido de gabinetes. "É nesse ambiente que alguns, individualmente, cometem desvios que nos envergonham diante da sociedade e perante a história do PT."

    O discurso do político enganado por companheiros é o mesmo da época do mensalão, quando o então presidente, em reunião ministerial transmitida pelas TVs, afirmou que se sentia "envergonhado" e "indignado": "Me sinto traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento".

    Anos depois, apesar de toda a indignação e vergonha de Lula, Delúbio Soares, o antecessor de Vaccari na tesouraria do PT, foi não apenas anistiado pelo partido, que aprovou sua refiliação antes mesmo de o Supremo Tribunal Federal julgá-lo, como passou a ser aplaudido de pé nos encontros internos. Até hoje paira a dúvida se ele é ovacionado pelo que fez quando cuidava das finanças petistas ou pelo silêncio que guardou depois, mesmo na cadeia.

    A gratidão eterna do PT deve ter uma importância inestimável.

    rogério gentile

    Escreveu até março de 2016

    Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".

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