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    Rogério Gentile

    PT muda para manter tudo igual

    23/04/2015 02h00

    SÃO PAULO - Acossado pela prisão de mais um tesoureiro, o PT resolveu adotar a fórmula de Lampedusa, segundo a qual é necessário mudar para que tudo continue igual.

    Rui Falcão, o presidente do PT, divulgou resolução, que ainda precisa ser referendada pelo congresso do partido, em junho, a partir da qual os seus diretórios não mais poderão receber doações de empresas privadas. "O partido revitalizará a contribuição voluntária, individual dos filiados, simpatizantes e amigos", afirmou o documento, em tom saudosista.

    Visto assim, sem lupa, o anúncio realmente parece ser algo relevante, um "exemplo contra a corrupção", como frisou o site da legenda de Delúbio Soares e João Vaccari Neto.

    Afinal, o PT, que, no início dos anos 80, para se sustentar, vendia camisetas e broches com a estrelinha vermelha, recebe cerca de R$ 80 milhões por ano de empresas (em 2013, 75% veio de construtoras).

    O problema é que Falcão contou só a metade da história. A resolução proíbe o PT de receber doações, mas não impede os petistas de aceitarem aportes das empresas nas eleições. Ou seja, o partido não pode mais "sujar" as mãos, mas os filiados sim –estudo de universidades dos EUA ("Os despojos da vitória: doações da campanha e contratos governamentais no Brasil") mostrou que, para cada real doado em 2006 para candidatos do PT à Câmara, a benemérita recebeu de 14 a 39 vezes o valor na forma de contratos públicos.

    Sobre a manutenção de doações empresariais aos candidatos do partido, Falcão escapou pela tangente e disse que, como não há eleição neste ano, "não é assunto para agora".

    Bom, sem eleição agora, o PT apoiou outra medida "saneadora", que elevou, em meio ao ajuste fiscal, o fundo partidário, alimentado por verbas públicas. Se em 2014 recebeu R$ 50,3 milhões, em 2015 ganhará R$ 117,4 milhões, diferença que, de certa forma, compensa o que deverá deixar de obter com empresas. Não existe ponto sem nó na política.

    rogério gentile

    Escreveu até março de 2016

    Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".

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