• Colunistas

    Wednesday, 01-May-2024 15:07:49 -03
    Rogério Gentile

    FHC e a maconha

    30/04/2015 02h00

    SÃO PAULO - Os defensores da liberação da maconha no Brasil costumam argumentar que a política de guerra às drogas fracassou –pois não reduziu a produção nem o consumo– e que a medida é necessária para esvaziar o crime organizado.

    FHC é o principal expoente dessa bandeira, chegando ao ponto, na semana passada, em evento no Rio de Janeiro, de dizer que o "governo atual não tem, aparentemente, sensibilidade com a questão das drogas", como se ele tivesse feito algo diferente na sua passagem pela Presidência.

    O tucano defende basicamente que o Estado passe a regular a venda da maconha, retirando-a "das mãos do crime organizado". Ainda bem que esse tipo de ingenuidade ocorreu ao ex-presidente somente na planície, longe do poder e livre dos compromissos com a realidade.

    A legalização da venda da maconha não seria um grande problema para o crime organizado, que continuaria a existir da mesma forma, negociando todo tipo de droga. Não precisaria abdicar nem mesmo da maconha. Teria apenas de trocar o verbo "traficar" pelo não menos violento "contrabandear".

    Exatamente como ocorre atualmente com o tabaco. Anualmente, cerca de 33 bilhões de cigarros, ou um a cada três fumados no Brasil, são ilegais, trazidos essencialmente do Paraguai por quadrilhas internacionais que, obviamente, não pagam imposto nem respeitam as normas do Ministério da Saúde.

    Os chamados cartéis do cigarro atuam na base da propina e da violência. Não é à toa que cidades localizadas em região de fronteira chegam a ter um índice estratosférico de homicídios, de cerca de 98 para cada 100 mil habitantes –a média nacional, que já é elevada, é de 29 homicídios por 100 mil.

    A liberação da maconha, além de não enfraquecer o crime organizado, como crê FHC, lhe traria, na verdade, um estímulo. O mercado consumidor potencial passaria a ser bem maior que o atual.

    rogério gentile

    Escreveu até março de 2016

    Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024