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    Rogério Gentile

    Os ex-otários

    06/08/2015 02h00

    SÃO PAULO - Governo fraco e o mais impopular já registrado pelo Datafolha, economia em frangalhos, instabilidade no Congresso Nacional e um infindável escândalo de corrupção. É difícil respirar num cenário desses. Mas, em meio a tudo isso, há, sim, uma boa notícia no ar. O Brasil está deixando de ser um país de otários.

    Pode parecer pouca coisa agora, considerando a confusão decorrente na política e os prejuízos inevitáveis para a economia, mas o tratamento quimioterápico intensivo que começou na investigação do mensalão e prossegue no caso Petrobras está, de uma forma ou de outra, aos poucos, mostrando que a velha definição de Bezerra da Silva para o "otário" –sujeito que tem só dois direitos, o de tomar tapa e o de não dizer nada– não vale mais para o Brasil.

    O procedimento em curso tem impacto profundo e abrangente. Políticos importantes foram condenados. O ministro mais poderoso de um governo popular foi preso uma, duas vezes, sendo que na última nem se sentiu mais à vontade para levantar teatralmente o braço e se dizer vítima de perseguição política. Grandes empreiteiros estão na cadeia. Um ex-presidente da República teve carros de luxo apreendidos. Envolvidos nos esquemas foram obrigados a devolver uma fortuna que gira em torno de R$ 1 bilhão.

    É evidente que tudo isso não resultará no fim da corrupção, dos desmandos, dos desvios e dos superfaturamentos. Não existe solução definitiva para esse tipo de assunto. Tampouco indica que, das cinzas produzidas pelas investigações, surgirá uma classe política mais honrada.

    Significa apenas que o país evoluiu e que as instituições funcionam com independência, não porque o governo atual permite, como martela o PT na sua difícil tentativa de se defender, mas pelo fato de que, 30 anos após o fim da ditadura, estão muito mais sólidas. A impunidade deixou de ser uma certeza. Corruptos e corruptores agora, ao menos, têm medo.

    rogério gentile

    Escreveu até março de 2016

    Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".

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