• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 13:12:56 -03
    Rogério Gentile

    Impasse, o pior dos mundos

    17/09/2015 02h00

    SÃO PAULO - O Brasil vive um impasse. Em meio a uma crise econômica grave, a presidente da República perdeu o vigor político necessário para governar e é improvável que consiga recuperá-lo. Por outro lado, não há na mesa um motivo robusto e evidente para o impeachment –decisão que seria hoje muito controversa. Não há um Fiat Elba; não existe uma Casa da Dinda.

    O pacote de maldades que o Brasil precisa adotar para ajustar suas contas, que passa por um drástico corte de despesas e aumento de impostos, exige liderança política para implementá-lo. Somente um governo com base sólida, mesmo assim suando muito, consegue fazer rolar algo que desagrada a tanta gente: empresários, classe média, servidores, movimentos sociais etc.

    Dilma não tem hoje o controle do Congresso. Mal consegue fazer com que o seu partido atue em consonância com as suas prioridades. O próprio Lula não faz mais questão de esconder suas divergências, atacando o ajuste.

    A presidente encontra-se nas mãos do PMDB de Michel Temer e Renan Calheiros, que não tem mais interesse em socorrê-la e só consegue pensar em outra coisa. O partido se enxerga na iminência de assumir o poder e apenas aguarda uma oportunidade para desenrolar o processo de impeachment.

    Nem mesmo um banho de espírito público faria o PMDB, depois que o partido sentiu o gostinho do poder, mudar de rota para ajudá-la a tirar o país da enrascada econômica. Quer inviabilizar o ajuste agora para ter a possibilidade de implantá-lo depois.

    A presidente Dilma, antes de tentar aprovar qualquer plano no Legislativo, precisaria reconstruir sua base política, uma tarefa que hoje é extremamente difícil, se é que ainda dá.

    De qualquer modo, de um jeito ou de outro, em algum momento, o país terá de sair desta condição de impasse e paralisia. Até lá, no entanto, não há como imaginar que a situação não vá se agravar ainda mais.

    rogério gentile

    Escreveu até março de 2016

    Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024