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    Rogério Gentile

    Só pode ser piada

    24/09/2015 02h00

    SÃO PAULO - Em meio a tanto problema, com presidente no limbo e dólar nas alturas, a Câmara, ao menos, tem-se esforçado para fazer humor. Sarcástico e debochado, mas humor. Decidiu conceder ao governador Alckmin (PSDB) um prêmio por sua atuação na crise hídrica.

    O Prêmio Lúcio Costa foi criado com o objetivo de reconhecer iniciativas que buscam a melhora da qualidade de vida das pessoas. Segundo o Datafolha, 71% dos paulistanos já sofreram cortes no fornecimento de água. Será que ser obrigado a sair de casa sem tomar banho ou ter de manter um balde entre as pernas para captar água com sabão no chuveiro significa vida melhor?

    Embora, de fato, São Paulo esteja passando pela maior estiagem em 85 anos, não há como elogiar a atuação do governador. Alckmin demorou conscientemente para agir. Retardou uma série de medidas contra a seca simplesmente porque temia seu impacto na eleição.

    Em abril de 2014, anunciou que começaria a sobretaxar em 30% as pessoas que gastassem água em demasia. Desaconselhado por assessores políticos, recuou e só implantou a medida em janeiro de 2015. A redução da pressão nas torneiras, principal providência contra a crise, também foi ampliada após a eleição.

    Reportagem da Folha mostrou que as represas poderiam ter 51% mais de água se valessem desde o início de 2014, quando a crise já era evidente, as medidas hoje em vigor .

    Relatório do Tribunal de Contas do Estado diz que a crise hídrica "é resultado da falta de planejamento das ações do governo" e que alertas foram dados desde 2004.

    O próprio Jerson Kelman, presidente da Sabesp, reconhece que a atuação não foi boa. Pouco antes de assumir o cargo, no fim de 2014, afirmou que, por conta da eleição, "desperdiçou-se água e os reservatórios estão mais vazios do que deveriam".

    Alckmin, porém, como disse ontem, considera que "o prêmio foi merecido". Só pode mesmo ser piada.

    rogério gentile

    Escreveu até março de 2016

    Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".

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