SÃO PAULO - A polêmica reorganização das escolas de São Paulo, promovida pelo governo Geraldo Alckmin, é melhor do que parece, mas pior do que poderia ser.
A rede estadual paulista perdeu 2 milhões de alunos desde 1998 (hoje são 3,8 milhões) em razão da diminuição da taxa de natalidade, da municipalização do 1º ao 5º ano e da migração de alunos para a rede privada.
Neste contexto, não faz sentido algum manter a mesma quantidade de prédios em funcionamento (5.147), desperdiçando recursos que poderiam ser mais bem empregados –na própria educação, inclusive.
Não custa lembrar aos que reclamam da lógica "mercantil e empresarial" que o país está afundado numa recessão que tende a ser uma das mais longas da sua história.
O problema é que o governo resolveu promover a reorganização de modo açodado e atabalhoado. A despeito de afetar originalmente mil escolas e movimentar mais de 1 milhão de alunos, anunciou o projeto no fim de setembro sem grandes esclarecimentos e com a intenção de implantá-lo já no início de 2016. O bom senso recomendaria começá-lo só em 2017 (tanto que o Estado foi obrigado a reduzir a meta para 311 mil alunos).
A pressa e a falta de transparência sobre o que acontecerá com os prédios desocupados e o recurso economizado geraram insegurança em pais e alunos, criaram muitas dúvidas na sociedade e deram margem para a instrumentalização ideológica e corporativa do debate.
Movimentos de moradia que dizem ter como objetivo maior lutar contra o capitalismo e o Estado, partidos de esquerda e o sindicato dos professores, resistente a tudo que não signifique menos trabalho e salário maior, acabaram estimulando a ocupação de escolas –há hoje 191 em curso.
O resultado é um grande descrédito sobre o projeto de reorganização escolar e uma confusão numa rede de ensino que há décadas não é conhecida pela qualidade.
Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".