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    Rogério Gentile

    Lula não está acima do bem e do mal

    11/02/2016 02h00

    O PT reage aos questionamentos sobre os supostos privilégios concedidos a Lula com o inconformismo e a prepotência de quem considera que o ex-presidente, em razão dos serviços que prestou ao país, devesse ser tratado como alguém acima do bem e do mal.

    Invariavelmente, cita seu "legado de realizações", o "sucesso dos seus programas sociais" e "a elevação do Brasil no cenário mundial" como uma espécie de salvo-conduto para todo o resto. Afinal, quem fez tanto pelo povo brasileiro só pode ser uma pessoa honrada. Será?

    O discurso do "bom homem" é acrescido do da "vítima das elites", perseguido a todo custo para que não possa voltar em 2018. "Nunca antes um ex-presidente foi tão caluniado, difamado e injuriado", escreveu Rui Falcão, o presidente do PT, esquecendo-se de que o próprio Lula já chamou Sarney "de grande ladrão".

    O fato é que, por mais que o PT tente construir uma narrativa política, buscando desviar a atenção geral para assunto distinto do que está sendo questionado, jamais houve indícios tão consistentes e constrangedores quanto os que estão sendo apontados agora a respeito das condutas do ex-presidente.

    Com o agravante de que, diferentemente de outros episódios que envolveram o PT, quando a complexidade das situações afetava o entendimento, as suspeitas que recaem sobre Lula são de fácil compreensão popular.

    Há muitas dúvidas no ar: empreiteiras que trabalham para o governo presentearam o ex-presidente com as obras e a mobília do sítio que costuma frequentar? Por que a OAS gastou R$ 770 mil para reformar um tríplex em Guarujá que estava sendo negociado com a família de Lula? Por que, segundo testemunhas, a reforma atendia ao gosto da família se ela não era a proprietária? O que o seu filho fez para receber R$ 2,5 milhões de uma consultoria investigada?

    Lula não está acima do bem e do mal. Se não fez nada de errado, pode muito bem se explicar à sociedade.

    rogério gentile

    Escreveu até março de 2016

    Foi secretário de Redação da Folha. Entre outras funções, foi editor da coluna "Painel" e do caderno "Cotidiano".

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