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    Ronaldo Caiado

    Abraço de afogado

    01/08/2015 02h00

    Enquanto todos os setores padecem com os efeitos da crise criada pelo governo, a produção no campo ainda resiste. Enfrentou o primeiro trimestre de 2015 com um expressivo crescimento de 4%, o que ajudou a evitar uma queda ainda maior em nosso PIB. Mas até quando a agropecuária vai conseguir aguentar essa tormenta em nossa economia?

    As condições não ajudam: o aumento nas taxas de juros dificulta –e muito– a oferta de crédito para a produção; o câmbio oscilando compromete a compra de fertilizantes, defensivos, além de prejudicar o planejamento do agricultor; a inflação próxima de dois dígitos lembra a época em que o que se financiava no plantio não se pagava na colheita; as deficiências logísticas e de elevação da carga tributária, problemas agravados pela crise, inviabilizam a perspectiva de ampliação na área de cultivo. Não há setor que resista.

    Mas o governo federal atrapalha em outras frentes. Ainda em julho, a presidente Dilma Rousseff tinha em mãos uma medida provisória (MP 670/2015) que poderia aliviar a pressão sobre o aumento dos custos do produtor rural. A desone- ração do PIS e da Cofins incidentes sobre o óleo diesel, que iria redu- zir o preço desse insumo utiliza- do no campo, bem como o preço do frete, foi vetada. Um verdadeiro abraço de afogado ao único setor em que ainda há algum fôlego. O diesel aumentou no último semestre 14% e ajudou a empurrar a já elevada inflação.

    O meio rural não quer caridade do governo, quer inteligência para fortalecer a única parcela de nossa economia que ainda cresce apesar das barbeiragens da presidente. Como já se faz na cidade, por exemplo, com as indústrias automobilísticas e de linha branca, por meio de subsídios, isenções e redução no IPI na tentativa de conter a crise e segurar o consumo interno.

    Entre 2012 e 2015, segundo a Receita Federal, medidas que favoreceram setores como o automotivo –sediado quase em sua totalidade no Sudeste– permitiram uma isenção de R$ 10,4 bilhões em tributos federais, além da desoneração da folha de pagamento. Com isso, teriam sido criadas 5.000 vagas no setor. Ou seja, criamos empregos ao custo médio de R$ 2 milhões por vaga.

    Ora, se formos usar do argumento em defesa da geração de riquezas e da colaboração social ao país, por que não aplicá-lo à produção no campo, que ainda dá sinais de crescimento em 2015? Ou a regra só vale para as indústrias do ABC paulista, reduto histórico do PT?

    Outro fator que coloca em xeque o fôlego do setor rural vem na tarifa de energia elétrica e seu racionamento disfarçado de "bandeira vermelha". Com a implantação da sobretaxa, atividades que dependem desse insumo acumulam aumentos significativos do custo de operação, atingindo valores que variam de 50 a 127%, a depender da região. A principal afetada é a agricultura irrigada, tecnologia mais acessível e eficiente no incremento da produtividade. Cabe registrar que esse aumento na tarifa é fruto da conjunção de um regime pluvial adverso e da interferência desastrosa da presidente no setor com sua MP 579/12, aquela que reduziu de forma artificial a conta de luz e quebrou o setor.

    Infelizmente, não dá para ser otimista. A meta fiscal já foi para o espaço, e o rebaixamento da nota de crédito do país implicará mais custos na captação de recursos também para o setor agropecuário. Ações que reduzam o custo Brasil deveriam ser priorizadas a fim de defender a competitividade do único setor que ainda resiste às intempéries do governo. A tormenta dá sinais de que vai continuar por algum tempo, e todo fôlego tem limite.

    ronaldo caiado

    É senador pelo DEM-GO.
    Escreve aos sábados,
    a cada duas semanas.

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