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    Ronaldo Caiado

    Os riscos da continuidade

    29/08/2015 02h00

    Já são três protestos nacionais em menos de seis meses indicando a vontade popular por mudanças significativas. De uma pauta difusa evoluímos para o consenso de que a corrupção, a situação econômica e a instabilidade política só serão solucionadas se partirmos da origem de toda a crise: o gabinete presidencial.

    A partir daí, três hipóteses foram levantadas: a renúncia de Dilma Rousseff, o que seria menos traumático, porém pouco provável; a cassação da presidente pelo TSE, diante da comprovação do uso de propinas do petrolão na campanha eleitoral; e o impeachment pelo descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Fatos para qualquer desdobramento existem. O aumento da ingovernabilidade, o recorde histórico nos índices de reprovação e a abrangência do escândalo da Lava Jato deram o caráter de urgência para que forças políticas buscassem uma solução.

    O que se seguiu, infelizmente, foi só a piora do quadro. Enquanto a oposição não conseguiu encontrar um caminho único em resposta à população, medidas do ajuste fiscal se mostraram inócuas, desemprego e inflação saíram de controle. As pessoas continuaram indo às ruas em todas as convocações feitas em defesa de uma saída constitucional. No entanto, para setores empresariais, da imprensa e do próprio parlamento, a incongruência dos líderes que deveriam capitanear esse momento se revelou temerária. Momentaneamente, alguns retrocederam à cautela da 4ª via: manter Dilma.

    Prolongar essa sangria por mais três anos é a melhor situação? Será que sustentar uma presidente sem legitimidade, completamente desconectada da população, sem a confiança do mercado e incapaz de propor mudanças que corrigiriam seus próprios erros é mesmo o caminho mais viável para o país? Teimo em dizer que o "continuísmo" é o pior caminho agora por um único motivo: a falta de credibilidade.

    Vivemos uma crise de representatividade. Em qualquer pesquisa há maioria para o impeachment. Se não faltam fatos concretos para o avanço jurídico, por que ignorar os protestos que continuam por todo o país? A Lava Jato aponta bilhões roubados no petrolão para financiar o PT e a campanha de Dilma, mas não são suficientes para a cassação da presidente pelo TSE? Centenas de prefeitos, governadores e parlamentares perderam mandatos por corrupção. Ela está acima da lei?

    É um governo acéfalo, em estado catatônico, capaz de anular qualquer um que se disponha a mudar os rumos da política e da economia do país. Vejam o que fizeram ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que caiu em desgraça diante da turma da "nova matriz econômica bolivariana". A ponto de o governo escalar o deputado federal José Guimarães para informar sobre o renascimento da CPMF em uma nova roupagem.

    Se Guimarães carece de liderança na própria Câmara, imagine diante do setor produtivo e da população brasileira. O país não aceita o retorno desse tributo tão nocivo, que prejudica todas as etapas da produção e recai sobre os ombros do trabalhador.

    Enquanto isso, o corte de ministérios é um engodo. A sinalização é que Dilma vai manter estruturas que serão anexadas a outras pastas e apenas retirará o "status" de ministros do presidente do Banco Central e da articulação política, por exemplo. O Brasil tem de pagar por mais esse estelionato, sem nenhum corte de gastos do governo?

    Com Dilma, o único cenário possível é o desastre. É preciso entender a necessidade de um redirecionamento político. E cabe aos agentes não compactuados ao PT que aparem as arestas e apresentem um projeto concreto em resposta ao país.

    ronaldo caiado

    É senador pelo DEM-GO.
    Escreve aos sábados,
    a cada duas semanas.

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