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    Ronaldo Caiado

    Proponho um fundo em que o eleitor destine sua parte a seu candidato

    25/03/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Sessão de votação no plenário da Câmara dos Deputados que aprovou nesta quarta-feira (15) projeto que abre um novo programa de repatriação de recursos
    Sessão de votação no plenário da Câmara dos Deputados

    Não há tema mais recorrente na vida institucional brasileira que o da reforma política.

    Entra governo, sai governo, volta à tona, erigido como prioridade, mas, como hoje, impulsionado por alguma crise —e acaba por levar a providências tópicas e imediatistas.

    Legisla-se sempre para a próxima eleição, sem nenhuma preocupação em criar um sistema sólido e duradouro. O resultado é o descrédito da sociedade nas instituições políticas, em que o eleitor já não se reconhece.

    Fala-se sempre que a reforma ideal será a próxima e improvisa-se a possível. Fui, aliás, relator de uma dessas reformas, na Câmara, que, a exemplo das que a precederam, começou com grandes promessas e pretensões e acabou frustrada por falta de consenso.

    Há convergência no diagnóstico, mas não na terapêutica, submetida a casuísmos. O atual sistema, disfuncional, fez da ingovernabilidade regra. Além de anomalias como coligações nas eleições proporcionais e ausência de cláusula de barreiras, tem fonte de financiamento restrita a parte do fundo partidário e a doações de pessoa física, insuficientes para custear eleições num país-continente, sobretudo num momento de profundo descrédito da política.

    A profusão de partidos (há hoje 28 legendas com assento no Congresso) responde pelo que se convencionou chamar de presidencialismo de coalizão; na verdade, de cooptação.

    A formação de maiorias, indispensável à governabilidade, favorece o fisiologismo, o loteamento de cargos, que desemboca na privatização do Estado, cujo resultado contemplamos na Operação Lava Jato.

    Que é o petrolão senão tropas político-partidárias de ocupação do Estado, saqueando-o a pretexto de financiar-se eleitoralmente para perpetuar-se no poder?

    Como, mais uma vez, discutimos a reforma no limite do prazo para sua implementação nas próximas eleições, temos que nos ater ao essencial, que é o financiamento. Não há espaço para truques ou manobras, como anistia ao caixa dois ou voto em lista, rejeitado pelo eleitor, que não confia nos partidos. E nem mesmo para discussões complexas, como a adoção do sistema distrital, puro ou misto.

    Proponho é a criação de um fundo eleitoral com recursos das seguintes fontes: parte do fundo partidário; multas coletadas pelo TSE; e fim da renúncia fiscal pelo uso da mídia privada (rádio e TV) na propaganda eleitoral e nos programas partidários, restringindo-os ao sistema público e comunitário de comunicação.

    Esse fundo, que formaria um montante aproximado de R$ 4 bilhões, seria fracionado entre todo o eleitorado brasileiro, cadastrado no TSE -aproximadamente 100 milhões de eleitores-, que, num prazo de 30 dias, destinaria sua parcela, de aproximadamente R$ 40 per capita, ao partido e/ou candidato de sua escolha, utilizando para esse repasse bancos oficiais ou agências dos Correios.

    Não querendo fazê-lo, a verba voltaria ao fundo partidário para repasse aos partidos, na proporção dos votos obtidos na eleição anterior.

    Só a renúncia fiscal pelo uso da rede privada representa R$ 400 milhões em ano não eleitoral. Em ano eleitoral, as cifras chegam a R$ 1,1 bilhão! Esse montante, acrescido de parte do fundo partidário, produzirá os R$ 4 bilhões do fundo eleitoral.

    Além de transparente, esse sistema envolve o eleitor -e lhe confere corresponsabilidade-, num processo que hoje o restringe ao ato de votar.

    A proposta é ousada, mas necessária, se o que buscamos é, mais que resgatar a credibilidade, instituir uma nova cultura política.

    Nenhuma democracia resiste à continuada rejeição do povo pelos seus representantes.

    ronaldo caiado

    É senador pelo DEM-GO.
    Escreve aos sábados,
    a cada duas semanas.

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