Protestos estão ocorrendo nos EUA contra a absolvição do vigia que matou Trayvor Martin. Trayvor tinha 17 anos, estava desarmado, foi morto ao voltar para casa. Usava um moletom com capuz (um hoodie), fato usado para dizer que sua aparência era "ameaçadora" (detalhe: o hoodie é a roupa favorita de Mark Zuckerberg, que foi ao lançamento das ações do Facebook na bolsa de Nova York usando um).
A solidariedade com a família do jovem é enorme. Afinal, o caso tem impacto no que significa ser negro e jovem na América (atirar em alguém por "aparência ameaçadora" vira legítima defesa). Obama disse que "se tivesse um filho, se pareceria com Trayvon". O reverendo Jesse Jackson pediu que o caso fosse julgado de novo em cortes federais, em coro com os protestos.
No Brasil, no dia 17 de julho foi assassinado em cima do palco o MC Daleste, artista de enorme popularidade, mas pouco conhecido por quem é de classe média e alta. Sua presença na mídia é pequena. Já no YouTube as músicas de Daleste têm mais de 40 milhões de acessos. Ele nunca lançou clipe oficial (os fãs que postavam os vídeos). O primeiro clipe saiu postumamente há uma semana (bit.ly/18mXxTU). Alcançou 1,5 milhão de acessos em dois dias.
Daleste é o quinto MC morto em três anos. São crimes contra a vida, a liberdade de expressão e revelam uma sociedade ainda partida. Mereciam comoção similar à da morte de Trayvor Martin, com um agravante: ninguém pode ser morto pelo que diz ou canta. Sua morte tem impacto profundo no que significar ser jovem nas periferias do Brasil.
É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.