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    Ronaldo Lemos

    Novas empresas, velhos negócios

    21/10/2014 02h00

    Um bom texto para esta semana –véspera de eleições– é o relatório "Empreendedorismo no Brasil 2013". O documento foi feito pelo GEM (Global Entrepreneurship Monitor) junto com o Sebrae, a UFPR (Universidade Federal do Paraná) e a FGV (Fundação Getúlio Vargas).

    Nele há uma radiografia do estado do empreendedorismo no Brasil e sua relação com a inovação. Aliás, corrijo-me: sua falta de relação com a inovação. Uma das tarefas para quem for eleito será justamente reconectar empreendedorismo com inovação no Brasil, que hoje andam em campos distintos.

    Alpino

    O relatório analisa se as novas empresas criadas no Brasil oferecem produtos ou serviços "novos" ou "velhos". A conclusão é avassaladora. Entre as empresas Brasileiras, 98,8% oferecem produto ou serviço que "ninguém considera novo".

    Apenas 1,2% das empresas oferece algo considerado "novo para alguns". Já o percentual das que ofertam algo considerado "novo para todos" é um redondo 0,0%. O Brasil perde feio para outros países.
    Na China, 16,7% das novas empresas oferecem produtos ou serviços "novos para todos". Na Índia, 17%, e no México, 9,4%.

    Outro dado doloroso diz respeito ao grau de integração das novas empresas brasileiras com o mercado global. Quando perguntadas qual o percentual de consumidores esperam ter no exterior, 98,6% respondem "nenhum". Na China, 22,5% das novas empresas orientam-se para fazer negócios com o exterior. Na Índia, 16,9%, e no México, 9,6%. Nos EUA o número chega a 84,8%.

    Novas empresas também são importantes para a geração de empregos. Nos EUA, elas foram responsáveis pela criação de boa parte dos novos empregos depois da crise de 2008. Só que mesmo essa correlação não funciona hoje no Brasil. Quando perguntadas quantos empregos pretendem criar nos próximos 5 anos, 76,5% das novas empresas brasileiras responde: nenhum.

    Sobre esse tema, vale ler o trabalho do economista Javier Miranda. Utilizando os dados do censo nos EUA, ele demonstrou que empresas nascentes foram por boa parte da criação de empregos pós-crise. Só para se ter ideia, 23,3% das jovens empresas de lá esperam criar gerar mais de 10 empregos em 5 anos e só 2,2% das empresas estabelecidas esperam fazer o mesmo.

    Por fim, é preciso incentivar o próprio empreendedorismo. No Brasil há apenas 2,1 empresas constituídas para cada mil pessoas economicamente ativas. Perdemos nesse quesito para o Uruguai (2,9), Peru (3,8), Rússia (4,3), Chile (5,69) e África do Sul (6,5).

    Números como esses soam difíceis, mas representam também uma oportunidade. Com empurrões bem aplicados é possível não só incentivar a criação de mais empresas, mas também fazer com que elas se envolvam de forma mais direta com inovação e com a geração de empregos. Quem sabe o conhecido programa de TV não passe a se chamar "Novas empresas, novos negócios e novos empregos".

    ronaldo lemos

    É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.

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