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    Ronaldo Lemos

    A cidade tecnológica

    02/12/2014 02h00

    Susan Crawford tem 51 anos, é professora em Harvard, bonita e responsável por algumas das ideias mais influentes no debate público dos EUA. Foi assessora de Barack Obama para Ciência, Tecnologia e Inovação e conselheira do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg. Há quem veja nela um futuro político brilhante, construído a partir de sua afiada visão sobre o papel da tecnologia para a gestão pública.

    Prova disso é o livro que ela acaba de lançar, chamado Responsive City: Engaging Communities Through Data Smart Governance (A Cidade Responsiva: Engajando Comunidades por meio de Governança Inteligente baseada em Dados), escrito em co-autoria com Stephen Goldsmith.

    Nele, Susan traça um verdadeiro caminho das pedras para o administrador público que deseja dar um salto qualitativo. O mapa para isso é o uso inteligente de dados: construir políticas públicas que respondam de forma direta a informações geradas a partir da própria cidade.
    A premissa do livro é de que as cidades serão cada vez mais cobertas por telas e sensores. Cada smartphone que carregamos anda pela cidade coletando dados. Graças a esses sensores ambulantes, é possível criar aplicativos para monitorar o trânsito, por exemplo. Mas isso é só o começo. Os sensores vão se espalhar ainda mais, coletando cada vez mais dados. Estar preparado para isso é um dos principais desafios do gestor público contemporâneo.

    Sobre isso, um dos argumentos do livro é mostrar como esses avanços dependem de "herois": gestores públicos que por vocação pessoal conseguem articular o grande arsenal de ferramentas hoje disponíveis (muitas delas gratuitas e abertas) e traduzi-las em ações concretas dentro do serviço público. Ela idenficou que esses "herois" foram essenciais em Chicago, Boston e Nova York, cidades estudadas no livro.

    Mas Susan não é ingênua. Sabe que essas tecnologias são solução, mas podem ser problema. Os mesmos sensores que melhoram a vida na cidade podem ser usados em países autoritários como ferramenta de controle sobre cidadãos. Por isso, só a tecnologia não basta: é preciso ter leis que garantam direitos fundamentais, impedindo o surgimento do "panóptico" descrito por Jeremy Bentham.
    Outra crítica que ela menciona vem da antropologia. O termo "smart" poderia ser interpretado como acrônimo de: Simplista, Mecanicista, Anti-histórico, Reducionista e Tautológico. Em outras palavras, a governança baseada em dados não dá conta de toda a complexidade das cidades, incluindo sua dimensão política e histórica. Outro problema é as cidades que embarcam nessa onda tornarem-se reféns do chamado "complexo industrial da inteligência urbana", termo cunhado pelo arquiteto Dan Hill para se referir à IBM, Cisco, GE, Siemens e SAP.

    Mas Susan não se deixa abater. Sua visão sobre essas tecnologias é claramente positiva. Ela sabe que sem elas a gestão pública não dá conta da crescente complexidade urbana em que vivemos.

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    JÁ ERA
    Sistema operacional só no computador

    JÁ É
    Sistemas operacionais chegando aos carros, TVs e outros objetos

    JÁ VEM
    Sistema operacional rodando cidades

    ronaldo lemos

    É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.

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