• Colunistas

    Tuesday, 07-May-2024 15:52:24 -03
    Ronaldo Lemos

    Reforma política do século 21

    27/04/2015 10h40

    Qual é o nível de confiança que nós, brasileiros, temos uns nos outros? De acordo com pesquisa feita pelo economista Max Roser em 2014, o índice muito baixo. Quando questionados "de forma geral, você acredita que dá para confiar nos outros?", apenas 9% responderam "sim". Na Noruega, foram 74%. Perdemos de vizinhos como México (15%), Colômbia (14%) e Chile (12%).

    Nesse cenário de deficit de confiança, como fica a democracia? Foi sobre isso que conversei na semana passada com um grande especialista na relação entre democracia e tecnologia, Ethan Zuckermann.

    Ele é diretor do Centro de Mídia Cívica do MIT Media Lab nos Estados Unidos e um dos fundadores do site Global Voices (vozes globais).

    Para ele, a falta de confiança entre as pessoas é uma grande oportunidade. Na sua visão, é em situações como essa que mudanças sociais qualitativas acontecem. Em outras palavras, a falta de confiança inspira nossa capacidade de imaginar novas instituições. Basta pensar na Magna Carta, originada em um momento de profunda crise de confiança na Inglaterra.

    Só que nosso tempo é muito diferente daquele momento inglês. Vivemos na era em que celulares abrem portas para novas formas de participação e cidadania. Por isso, Zuckermann acha que é possível aproveitar a falta de confiança atual para criar novas estratégias para suprir esse deficit. A tecnologia é elemento central para isso.

    Nos EUA, graças às novas mídias, normas sociais estabelecidas há décadas foram reformuladas: a aprovação do casamento gay em vários Estados, a mudança da política de drogas relativa ao consumo de maconha e, mais recentemente, a aprovação da regra da neutralidade da rede –implementada após a Comissão de Comunicações receber mais de 3,7 milhões de comentários pela internet sobre o tema. Todos são exemplos vivos de mudanças sociais que só ocorreram por causa das novas formas de comunicação.

    No Brasil há evidências da mesma hipótese: a aprovação da Lei da Ficha Limpa ocorreu graças a uma grande mobilização social, possível também por causa de novas mídias. O mesmo se pode dizer do Marco Civil da Internet, cuja formulação e mobilização aconteceram on-line. E, é claro, os protestos que tomam as ruas desde 2013.

    Não basta discutir apenas reforma política na sua acepção tradicional. É preciso discutir qual será a reforma política do século 21, já sintonizada com as novas tecnologias. Precisamos aproveitar a oportunidade em que o sistema político do país está em debate para dar um salto qualitativo.

    O celular é realidade para a maioria dos brasileiros. A internet também será. Nada justifica ignorarmos isso. É preciso pavimentar mecanismos para que a tecnologia se integre à democracia desde já. O debate da reforma política, aqui e agora, é oportunidade para se fazer isso.

    *

    JÁ ERA fazer propaganda sem target específico
    JÁ É propaganda com target comportamental
    JÁ VEM propaganda com target de acordo com o humor no momento

    ronaldo lemos

    É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024