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    Ronaldo Lemos

    Diversidade na tecnologia importa

    09/11/2015 03h34

    Vivemos ao mesmo tempo o pior dos mundos e o melhor dos mundos. Enquanto Congresso e governo aceleram no retrocesso, a sociedade brasileira dá sinais de grande vitalidade. Um exemplo é o protagonismo feminino da campanha #AgoraÉqueSãoElas.

    Com a palavra, Gabi Agustini, diretora do Olabi Makerspace, espaço de aprendizagem de novas tecnologias do Rio de Janeiro, que participa da iniciativa e é autora da coluna de hoje:

    "Acaba de estrear no YouTube o filme 'CodeGirl'. O documentário de Lesley Chilcott mostra a história de participantes do Technovation Challenge, uma importante competição global que reúne meninas de ensino médio que estão aprendendo a programar.

    Projetos como esse são importantes porque ambientes ligados à tecnologia são predominantemente ocupados por homens. Estudo divulgado neste ano pela revista 'Fortune' mostra que as mulheres correspondem a apenas um terço da força de trabalho das empresas de tecnologia nos Estados Unidos.

    A pesquisa comparou dados de nove das grandes do Vale do Silício, entre elas Airbnb, Google e Facebook, e evidenciou uma presença feminina ainda menor quando analisados os cargos de liderança.

    Os dados são norte-americanos, mas refletem uma desigualdade que é comum no mundo inteiro e se agrava nos países do hemisfério sul. Quando considerados recortes como populações afrodescendentes ou outros grupos, esse número tende a ser ainda mais baixo.

    A consequência da falta de diversidade é que muitos dos gadgets, jogos e softwares deixam de fora enormes possibilidades. Tecnologias não são neutras, elas refletem escolhas estratégicas e denotam comportamentos culturais.

    Um jogo criado por um homem branco norte-americano traz embutida a forma como ele vê o mundo. De modo similar, o algoritmo que sugere livros com base nos hábitos de consumo do consumidor também carrega uma parcela importante de subjetividade.

    É preciso entender que as associações de dados realizadas por esse tipo de sistema não são estáticas nem isentas. Elas são edições e possibilidades dentro de uma infinidade de outras opções. Definir qual dessas escolhas vai aparecer para você é uma vantagem que a pessoa responsável pelo algoritmo (hoje, em sua maioria, homens) tem.

    Estimular que mulheres e minorias possam criar aplicações de tecnologia é possibilitar novas narrativas. É permitir que soluções para outros problemas sejam encontradas e que reflexões e incômodos até então invisíveis apareçam.

    No Brasil, além do Technovation Challenge, uma série de iniciativas busca ampliar a diversidade na tecnologia. Criada em 2012, a RodAda Hacker estimula que o público feminino entenda como o mundo da programação funciona e se sinta encorajado a aprender mais.

    O nome do projeto é uma homenagem a Ada Lovelace, inglesa que viveu no século 19, conhecida como a primeira pessoa a programar no mundo.

    Desde aquela época, centenas de mulheres dedicam seus dias a experimentar, construir e inventar novos caminhos e soluções tecnológicas em um cenário ainda marcado por falta de oportunidades e visibilidade.

    Graças a elas é possível sonhar com um futuro em que a produção de tecnologias seja fruto de um cenário mais equilibrado e diverso."

    ronaldo lemos

    É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.

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