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    Ronaldo Lemos

    Brasil, potência espiritual

    02/05/2016 02h00

    Sabe qual é um dos cursos mais procurados do MIT Media Lab, instituição que é um dos mais importantes centros globais da inovação? O de "Princípios do Autoconhecimento". Quem o ministra é ninguém menos que Joi Ito, diretor do MIT Media Lab e conhecido investidor de risco, que apostou logo no início em empresas como o Twitter e o Kickstarter.

    O curso trata de temas como meditação, "fronteiras entre o eu e o outro", "não dualidade" e assim por diante. Na bibliografia, há textos do dalai-lama, Martin Buber e Hegel.

    Inovação e espiritualidade (religiosa ou não) sempre andaram juntas. O próprio Vale do Silício tem sua origem ligada à contracultura dos anos 1960. Steve Jobs é exemplo disso, adepto de práticas "alternativas" que ditavam seu comportamento e dieta.

    Ou, ainda, Timothy Leary, escritor e psicanalista que estudou (e consumiu) a fundo o LSD. Ele é considerado pioneiro da ideia de "realidade virtual". Acreditava que a tecnologia sucederia as drogas na criação de ambientes artificiais para a existência humana. Estava certo. Neste ano, a aposta da indústria de eletrônicos para consumo são justamente dispositivos de realidade virtual, mercado que já movimenta bilhões. Leary estaria hoje orgulhoso de sua previsão.

    Se em inovação nosso país é capenga, no campo da espiritualidade o Brasil é potência global. Um exemplo é a recente visita da artista Marina Abramovic -uma das personalidades mais conhecidas do fornido mundo da arte contemporânea-, que circulou pelo país realizando um documentário sobre nossas cidades místicas. O documentário é hoje um dos raros produtos mainstream a apresentar o país no exterior sob uma luz positiva.

    Tudo isso mostra que precisamos de um olhar mais sofisticado para nossa potência espiritual. Um dos desafios de qualquer país atualmente é atrair talentos globais.

    Nossas cidades espirituais já fazem isso. Da mesma forma que o festival Burning Man tornou-se a Meca "new age" do Vale do Silício, nossas cidades místicas são polo de atração para programadores, designers, investidores, empresários e "criativos" de modo geral, sem que nos demos conta disso. O circuito é amplo: São Lourenço, São Tomé das Letras, Sete Cidades, Visconde de Mauá, Abadiânia e assim por diante.

    Um exemplo forte desse potencial é a parceria que o governo de Goiás fez com consultora McKinsey e o guru Sri Prem Baba para construir em Alto Paraíso de Goiás uma cidade sustentável, dedicada ao autoconhecimento e à promoção das 17 metas de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.

    O objetivo é transformar Alto Paraíso de Goiás em referência global em inovação e sustentabilidade, com a construção de um centro de pesquisa agrícola, um de tecnologia e inovação e posteriormente um campus universitário. Tudo puxado pela incrível capacidade de Prem Baba -criador da Fundação Awaken Love e hoje um líder global- de atrair talentos e empresas para o seu entorno.

    READER

    • JÁ ERA ignorar questões étnicas e de gênero nas empresas
    • JÁ É preocupação com ampliar a diversidade nas empresas de tecnologia
    • JÁ VEM preocupação em ampliar a diversidade étnica e de gênero atribuída a robôs humanoides
    ronaldo lemos

    É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.

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