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    Ronaldo Lemos

    DAO, o projeto que quer mudar o mundo

    23/05/2016 02h00

    Aposto que a maioria dos leitores nunca ouviu falar do The DAO. Apesar disso, no momento em que esta coluna é escrita, ele já levantou US$ 160 milhões por meio de crowdfunding. É o maior financiamento coletivo já realizado.

    Qual o objetivo do projeto? Mudar o mundo. Ou ao menos construir os primeiros passos da tecnologia que poderá fazer isso.

    DAO significa "Organização Autônoma Descentralizada" (Descentralized Autonomous Organization). Trata-se da possibilidade de criar empresas (ou qualquer outro tipo de organização, inclusive de serviços públicos) que se autoadministram, sem a necessidade de intervenção humana. Essas empresas vivem na internet de forma descentralizada e obedecem a instruções pré-programadas. Uma vez criadas, são imparáveis. Não há nada que possa ser feito para interromper seu funcionamento, exceto desligar a rede como um todo.

    Pense nos aplicativos para chamar veículos privados para transporte urbano. Esse serviço pode ser transformado em um DAO. Em vez de serem oferecidos por uma empresa, pode haver um programa existente na própria internet. Sempre que alguém chamar um carro pelo celular, dizendo sua localização e pagando o preço, o programa automaticamente enviará um motorista para lá.

    Não haverá prefeitura, tribunal ou sindicato capaz de derrubar a infraestrutura informacional dessa operação. Para ela parar, só derrubando a rede simultaneamente no mundo inteiro (um DAO de transporte urbano já existe, chama-se Arcade City e vai ser lançado na cidade de Austin nos EUA neste ano).

    O que o projeto The DAO quer fazer é atuar como uma financiadora de organizações autônomas descentralizadas. Os US$ 160 milhões levantados serão investidos na criação da primeira geração de DAOs espalhados pelo mundo. Vale dizer que o The DAO é em si uma organização autônoma. Isto é, as decisões sobre quem receberá os recursos serão tomadas automaticamente, com base nos votos da comunidade.

    Qualquer pessoa pode mandar um projeto ao The DAO. Se tiver apoio, expressado na forma de votos, receberá os recursos automaticamente, sem intervenção humana. É a democracia autoexecutável.

    Nesse sentido, os DAOs podem transformar a forma como as empresas se organizam, os serviços públicos e a própria democracia representativa. Não é difícil imaginar um partido valendo-se da estrutura de um DAO
    para realizar suas "primárias" internas. Os candidatos seriam escolhidos e financiados de forma autônoma, transparente e auditável. Bem diferente do processo utilizado no Brasil de hoje.

    Pouca gente sabe, mas entre os dez curadores do The DAO está um brasileiro. Trata-se do designer e programador Alex Van de Sande, um dos maiores nomes do planeta quando o assunto são sistemas autônomos e contratos inteligentes (smart contracts). Alex, que mora no Rio, é uma das pessoas responsáveis pelo destino desses US$ 160 milhões que almejam criar um novo paradigma de organização da vida humana.

    READER

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    ronaldo lemos

    É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.

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