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    Ronaldo Lemos

    Maior legado dos Jogos será mostrar 'megaeventos' como insustentáveis

    08/08/2016 02h00

    O maior legado da Olimpíada não será municipal, estadual nem nacional. Será mundial. Os Jogos no Rio deixam claro que o modelo dos "megaeventos" tornou-se insustentável tanto do ponto de vista político quanto econômico. Enquanto o mundo assiste ao Brasil (e ao Rio) se debater para organizar os Jogos apesar da precariedade atual, fica claro no plano internacional que a Olimpíada do Rio será a última a ser organizada nesse modelo.

    Os próximos grandes eventos internacionais serão mais comedidos, eficientes, sustentáveis e baseados em inteligência e tecnologia para serem viáveis. Fernando Montejo, urbanista e pesquisador do MIT que está no Rio para estudar a organização da Olimpíada, chama a atenção para as evidências nesse sentido.

    A começar pelo deslocamento da organização desses eventos, que saíram dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento. Nesse sentido, todas as quatro cidades europeias que enviaram propostas para a Olimpíada de Inverno de 2022 retiraram suas candidaturas. Só sobrou Almaty (Cazaquistão) e Pequim, que venceu. Para a Olimpíada de 2024, Boston e Hamburgo também retiraram suas candidaturas depois de protestos e resistência dos moradores das cidades.

    Ao mesmo tempo, entre 2008 e 2018 todos os Brics terão organizado ao menos um megaevento (Brasil e China terão organizado dois). Isso só agrava a situação, pois o custo nesses países é muito maior pela falta de infraestrutura, e os recursos, mais limitados. Sem contar fatores como instabilidade política.

    Nesse sentido, o modelo da Olimpíada do Rio é um derivado direto da crença na riqueza do petróleo. Do delírio que tomou conta momentaneamente do país de que nosso futuro econômico estaria garantido pelo pré-sal.

    Os próximos megaeventos serão derivados de modelos econômicos muito mais inteligentes, nos quais valores como sustentabilidade, eficiência e tecnologia serão os grandes diferenciais.

    Em face disso, tanto o COI quanto a Fifa estão implementando amplas reformas com relação às demandas que importam para as cidades e países-sede desses eventos. Por exemplo, em 2014 o COI fez 40 propostas para tornar os Jogos Olímpicos mais atraentes, revendo o processo de escolha, reduzindo os custos das propostas, adicionando sustentabilidade e eficiência, prometendo maior transparência e responsabilidade ética e até mesmo promovendo igualdade de gênero.

    Vale parabenizar os organizadores dos Jogos no Brasil, mesmo que boa parte do esforço tenha sido para remar na direção errada. É provável que a festa será de fato linda e memorável. Vale aproveitá-la ao máximo. Ela será como o baile da Ilha Fiscal. Entrará para a história marcando o fim de uma era que não volta mais.

    ronaldo lemos

    É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.

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