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    Ronaldo Lemos

    Olimpíadas deveriam ser divididas entre países para diminuir custos

    15/08/2016 02h00

    Vale muito ler o livro "Circus Maximus", do economista especializado em esportes Andrew Zimbalist. Nele, o autor defende que há um consenso entre economistas de que receber um "megaevento", como a Copa ou a Olimpíada, é uma péssima ideia.

    Uma Olimpíada custa entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões, e o retorno não ultrapassa US$ 5 bilhões. Além disso, deixa custos exorbitantes de manutenção das estruturas. Zimbalist defende que só dois Jogos foram realmente bem-sucedidos: Los Angeles e Barcelona.

    A consequência é que está se tornando cada vez mais difícil encontrar países interessados em receber "megaeventos", especialmente no mundo desenvolvido. Em razão dos enormes sacrifícios, a tendência é migrarem mais para países em desenvolvimento ou autoritários, onde reforçam agendas políticas centralizadoras.

    Nesse contexto, o próprio COI percebeu que "algo precisa mudar para tudo permanecer como está". Em 2014, lançou 40 propostas focando temas como eficiência, redução de custos, transparência e sobretudo sustentabilidade. Mas há outras propostas na mesa.

    A jornalista Megan Greenwell escreveu artigo na revista "Wired" propondo que os Jogos deveriam ser divididos entre vários países. Isso permitiria um ganho de eficiência e redução de custo. Países que já têm infraestrutura para um tipo de esporte atuariam como sede daquela modalidade. Um exemplo é a Euro-2020, que se dividirá entre vários países-sede.

    Do ponto de vista de mídia, a experiência seria a mesma: uma única Olimpíada. Isso é relevante porque cada vez menos pessoas viajam para assistir aos Jogos presencialmente (basta ver os assentos vazios no Rio). A experiência central é a da TV e da internet.

    Outro elemento é o usar tecnologia e inteligência para a organização de megaeventos. Em vez de elefantes brancos, privilegiar o compartilhamento de infraestrutura e a "economia colaborativa". Um exemplo é o acordo firmado pela Airbnb, que se tornou o "fornecedor oficial de acomodação alternativa" para os jogos do Rio, listando 20 mil lugares de hospedagem. O impacto é tão relevante que a empresa foi incluída diretamente na plataforma de ingressos da Rio-2016. Esse modelo permite que o dinheiro circule para os habitantes da cidade, evitando concentração apenas em empreiteiras e poucos fornecedores.

    Ou ainda o aplicativo de transporte urbano que anunciou preço fixo de R$ 25 para ir de qualquer ponto da cidade para um evento olímpico na modalidade "pool" (compartilhada). Mesmo preço do RioCard diário.

    Por tudo isso, a Olimpíada brasileira é uma despedida. Daqui para a frente os valores em torno dos megaeventos serão bem diferentes daqueles postos em prática na Rio 2016.

    Chamada - Rio 2016

    ronaldo lemos

    É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.

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