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    Ronaldo Lemos

    O que fazer com as notícias falsas na internet?

    21/11/2016 02h00

    O dicionário Oxford tem a tradição de nesta época escolher a palavra do ano. Em 2015, a palavra foi um "emoji", a carinha de felicidade enviada pelo celular para expressar emoções. Bons tempos aqueles.

    Desta vez a palavra escolhida foi "pós-verdade", definida como "circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influentes para determinar a opinião pública do que apelos a emoções e crenças pessoais". Exemplo de uso: "Nesta era da pós-verdade, é fácil usar dados para demonstrar qualquer conclusão que você quiser".

    A escolha da palavra do ano coincide com o imenso debate que tomou conta do planeta sobre a propagação de notícias falsas por meio da internet. Depois da eleição de Trump, a bolha antitrumpista foi rápida em apontar as redes sociais e as empresas de internet como um dos responsáveis por contribuir para a eleição do magnata.

    A razão apontada para isso é a circulação frenética de notícias falsas. Por exemplo, a notícia de que o papa Francisco havia apoiado Trump foi compartilhada quase 1 milhão de vezes. Outra, dizendo que a comunidade amish havia apoiado o magnata, foi indexada como notícia da ABC News, graças a um site falso que usava o nome da famosa rede de TV dos EUA.

    Essas falsidades circularam bem mais do que seus desmentidos. É altamente provável que até hoje haja muita gente acreditando nessas afirmações.

    O autor da notícia dos amish é o empresário Paul Horner, morador do Estado do Arizona, de 38 anos. Ele se autointitula "troll" profissional.

    Ele ganha a vida publicando notícias falsas sobre tudo e todos. Por exemplo, convenceu falsamente 4,8 milhões de pessoas de que ele seria o famoso grafiteiro britânico Banksy, cuja identidade é desconhecida.

    Com as eleições nos EUA, seus negócios explodiram. Ele logo notou que a postagem de notícias falsas favoráveis a Trump alcançava picos inéditos de compartilhamento (outros trolls tentaram fazer o mesmo com notícias favoráveis a Hillary Clinton, mas, ao ver que os compartilhamentos eram baixos, desistiram).

    Vale ler a entrevista que Horner deu ao jornal "Washington Post". Nela ele afirma com a empáfia típica dos trolls que "Trump está na Casa Branca por minha causa". Ao ser questionado se apoiava o candidato, ele respondeu "odeio Trump" e afirmou que fez o que fez porque dava audiência e receita publicitária.

    A questão é o que deve ser feito. A disseminação de notícias falsas é usada tanto para fins políticos quanto por grupos terroristas como o Estado Islâmico.

    Há muitas propostas na mesa sobre como mitigar essa questão: aumentar a repercussão de sites jornalísticos; listar nos links recomendados sites de "checagem de fatos"; ou permitir que usuários denunciem conteúdos falsos. O tema é espinhoso. É a primeira pauta de reforma institucional a decolar no mundo pós-Trump. É um começo. Há muitas outras instituições precisando de reforma.

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    ronaldo lemos

    É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.

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