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    Ronaldo Lemos

    A primeira edição da revista 'Wired' brasileira está chegando

    28/11/2016 02h00

    Divulgação
    Capa da revista inglesa Wired de outubro, com o chef Ferran Adrià
    Capa da revista Wired com o chef Ferran Adrià

    Se há uma "bíblia" sobre inovação, talvez ela seja a revista "Wired". Lançada em 1993 por pensadores que achavam que a tecnologia mudaria o mundo (acertaram), a revista é lida por cientistas e curiosos em geral. Na edição mais recente, Barack Obama foi editor convidado, tratando de inovação.

    O Brasil apareceu poucas vezes em suas páginas. A mais importante foi em 2004, quando Gilberto Gil deu uma entrevista bombástica, declarando-se ministro da Cultura, hacker e defensor do software livre.

    Gil citou a antropofagia e o tropicalismo como aliados da tecnologia. O texto vale ser lido ainda hoje. Diz que, para promover o progresso tecnológico, é preciso "abrir a conversa para todos e permitir que o conhecimento científico circule da universidade para a favela e vice-versa".

    Depois, o Brasil nunca mais teve o mesmo destaque na revista. Isso vai mudar nas próximas sexta (2) e sábado (3). A "Wired" está realizando seu primeiro festival de palestras no Brasil (no Rio). O evento marcará a primeira edição da revista em português (que aqui será anual).

    A programação diz que o festival "vai reunir algumas das mentes mais disruptivas e visionárias do mundo para discutir ideias que vão mudar sua vida". Se é verdade, não importa. O que mais me chama a atenção é algo que ninguém notará. Entre os poucos brasileiros convidados, haverá três nascidos em Araguari (MG).

    De acordo com o IBGE, Araguari tem pouco mais de 110 mil habitantes. Que tipo de erro estatístico poderia enviesar a representação dessa pequena e pouco conhecida cidade nesse festival de inovação? Será que os organizadores do evento quiseram, secretamente, prestar homenagem à beleza da cidade?

    Tenho outra explicação. Na década de 1980, Araguari foi escolhida para um experimento. Foi a primeira cidade do país a receber um sistema de TV a cabo para testes. A cidade foi cabeada e de repente passou a contar com dezenas de canais (principalmente estrangeiros e piratas). Isso representou um salto informacional. Quando a Guerra do Golfo começou, em 1990, os araguarinos acompanharam ao vivo pela CNN. Coisa que poucas Redações de jornal em SP ou no Rio tinham.

    Esse acesso à informação mudou a vida de uma geração. Os três brasileiros de Araguari que estarão no festival da revista "Wired" são:

    1) Gustavo Caetano, fundador da empresa de tecnologia Sambatech. Ele é usualmente chamado de o Mark Zuckerberg brasileiro. Uma grande injustiça (Gustavo é muito mais legal que Mark); 2) Manoel Lemos (meu primo de 3º grau), sócio de um dos maiores fundos de investimento em tecnologia da América Latina e cientista da computação.

    3) O terceiro é este colunista. Poderia listar outros araguarinos que trabalham com tecnologia e inovação. Mas paro com o bairrismo por aqui. Essa experiência pessoal me ensinou que o acesso ao conhecimento pela tecnologia de fato muda vidas. Mudou a minha. É uma lição que Araguari pode dar à "Wired".

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    É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil. Escreve às segundas.

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