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    Rosely Sayão

    Brigas e separação

    DE SÃO PAULO

    25/03/2014 03h00

    Num dia, ou numa noite qualquer, um homem e uma mulher se encontraram. E se amaram. Ela achou que ele fosse sua alma gêmea, ele pensou que ela fosse a mulher de sua vida.

    Por um período eles ficaram juntos -bem juntos-, fizeram juras, sonharam e pensaram em projetos para realizar no presente e no futuro. Tiveram um filho, ou dois, ou três.

    Nem importa se eles se casaram ou não, se o casamento durou meses ou anos, e quais os motivos que a vida lhes apresentou que fez com que mudassem de ideia. O fato é que num dia após o outro, ou numa noite após a outra, o amor acabou -ou não mais conseguiu continuar-; nem mesmo eles sabem ao certo o que aconteceu.

    Ela não mais conseguia identificar aquele homem como sua alma gêmea. Aliás, perguntava a si mesma como pudera pensar nisso algum dia, como conseguira permanecer tanto tempo de olhos tão fechados.

    E ele imaginava o que teria acontecido para que aquela, que ele pensara ser a mulher de sua vida, ter mudado tanto.

    Ambos sofreram com o rompimento do laço que havia entre eles e com o final de tantos sonhos e projetos em comum. Sofreram muito. Um deles até podia disfarçar melhor sua dor; o outro só conseguia deixar seu desgosto se exibir sem pudor. A amargura, porém, era dupla.

    Seguiram seus caminhos na vida e, sem que se dessem conta, passaram a viver criando problemas. Problemas na divisão de bens -bobagens tolas-, encrencas para acertar horários e dias de visita ao(s) filho(s), disputas mil. Em tudo.

    Restaram muita mágoa e ressentimento aos dois. Um até podia disfarçar melhor enquanto o outro não conseguia se controlar, mas o certo é que os dois reagiam um contra o outro, mesmo e principalmente à distância. Virou uma batalha.

    Um dia era o atraso no horário de o pai buscar o(s) filho(s), noutro dia era uma taxa extra da escola que não estava prevista; num dia era o(s) filho(s) que chegava(m) sem banho tomado, noutro dia com o dever escolar sem fazer. Tudo era motivo para discussões, reclamações, cara fechada.

    Eles nem percebiam que todos os problemas caiam sobre uma, ou duas ou três crianças. O filho(s) deles. Que um dia eles tiveram como projeto para o presente e para o futuro. E que não faziam parte dos bens divididos. O filho(s) continuaria(m) a ser dos dois. Para sempre.

    "Minha mãe é boa ou má?", "Meu pai gosta ou não gosta de mim?" e outras dúvidas menos conhecidas rondavam a cabeça do(s) filho(s) algumas vezes, principalmente quando ouvia(m) as reclamações que a mãe tinha do pai e/ou que o pai tinha da mãe.

    O filho(s) não sabia(m) que não era de seu pai que a mãe reclamava, e sim daquele que, outrora, fora sua alma gêmea. Difícil uma criança entender isso. O filho(s) também não percebia(m) que não era da mãe que o pai reclamava e sim daquela que, outrora, fora considerada a mulher de sua vida. Complexo para uma criança distinguir isso!

    Num dia, ou numa noite qualquer, talvez esse homem e essa mulher possam se dar conta de que estão afetando, e muito, a vida do(s) filho(s) agindo assim. Afinal, os filhos são -ah, como são!- a coisa mais importante na vida de quem quis e de quem pode tê-los, não é?

    E talvez um dia, quem sabe, os filhos consigam superar e perdoar seus pais porque irão entender que eles nem sabiam o que faziam, apesar de já serem adultos na época em que os filhos eram apenas crianças.

    rosely sayão

    Escreveu até julho de 2017

    Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

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