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    Rosely Sayão

    Os jovens de hoje

    22/04/2014 03h00

    Entrar na faculdade, começar a namorar de maneira mais compromissada –com seus sentimentos e com o outro –e deixar de morar com os pais já foram índices de que o filho havia crescido e de que, a partir de então, ele poderia e deveria cuidar da própria vida. Essas eram marcas de que a adolescência terminara, enfim.

    Não é mais assim. Agora, fatos desse tipo são sinais, para os pais, de que eles precisarão se dedicar ao filho de modo diferente: de que serão outras as preocupações que lhes tirarão o sono, de que serão outros os riscos que o filho correrá. Como tem sido, para muitos pais, ter filhos com 18 anos, ou um pouco mais?

    Bem, a partir do momento em que o jovem entra na faculdade, os pais se preocupam porque querem evitar que o filho fique lá por muito tempo.

    É: muitos jovens, nos mais diversos cursos, não conseguem terminar o curso de graduação que iniciaram.

    Ora porque ficaram em dúvida e passaram a achar que seu curso é outro, ora porque não encontraram professores que consideram "bons e motivadores", ora porque simplesmente não dão conta das responsabilidades exigidas, muitos abandonam o curso ainda no primeiro ano ou trancam matrícula em várias disciplinas.

    Alguns deles querem voltar a fazer um cursinho preparatório para um novo vestibular, outros esperam transferência de curso e, outros ainda, decidem "dar um tempo" nos estudos e ficar só curtindo a vida.

    Apesar de os pais se preocuparem, vários deles aceitam a posição do filho e até se penalizam porque pensam que, afinal, escolher uma profissão que o acompanhará para o resto da vida não é fácil mesmo nessa idade. E muitos deles até querem que o filho insista, e para tanto se prontificam a ajudar o jovem a resolver suas pendências na faculdade.

    É impressionante ver a quantidade de pais nas faculdades que lá foram para tentar resolver problemas dos filhos. Antes, isso seria motivo de vergonha para o jovem; agora, muitos consideram isso "normal". Aliás, querem que isso aconteça.

    E o namoro? Muitos pais abrem a casa para que os filhos durmam com a namorada ou namorado e até providenciam camisinha, quando é o caso, para que a/o filha/o evite surpresas inesperadas.

    Mesmo com esse grude dos pais com os filhos, há os jovens que querem se emancipar, conquistar liberdade e autonomia, e decidem morar sozinhos. Ah! Os pais se sentem abandonados e não entendem os motivos que levam o jovem a renunciar a todo o conforto que oferecem.

    E acham, também, que o filho não conseguirá bancar sua própria vida. Pode ser que inicialmente eles não consigam. Mas, aos poucos, irão aprender que para ter roupa limpa precisam lavá-las, que para ter casa limpa precisam limpá-la e, que receber amigos para comer todo santo dia custa caro e dá trabalho.

    Tudo o que esses pais precisam, talvez, seja lembrar de sua própria juventude. Eles escolheram um curso com a mesma idade que agora têm os filhos, quiseram muito morar sozinhos e administraram tão bem quanto puderam sua vida sexual.

    Pode ser que eles pensem que não foram felizes assim, por isso querem dar melhores oportunidades aos filhos. Mas ninguém tem a receita da felicidade; sabemos uma única coisa: só a própria pessoa pode buscar esse estado.

    Nossa questão em relação a esses jovens deve ser: será isso bom para eles?

    rosely sayão

    Escreveu até julho de 2017

    Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

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