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    Rosely Sayão

    Ser e fazer

    DE SÃO PAULO

    29/07/2014 03h00

    Todo mundo conhece a perguntinha chata que fazemos para as crianças: "O que você quer ser quando crescer?". As respostas mostram o que as motiva no presente: uma diz que quer ser astronauta, cientista, engenheiro. Outra, ainda modelo, cantora, jogador de futebol etc. Tais respostas apontam o interesse atual das crianças, sua admiração por pessoas ou personagens públicas, e revelam, invariavelmente, seu descompromisso para com o futuro.

    Crianças não pensam no que virá, a não ser no que estiver bem próximo e que, certamente, se tornará realidade: as férias, a viagem programada pelos pais, os presentes que esperam ganhar, a festa a que irão, as provas que farão, por exemplo. Por isso, essa pergunta não as afeta.

    Mas, terminada a infância e o início da adolescência, a pergunta passa a ser uma cobrança, uma pressão, uma fonte de angústias e preocupações. Por quê? Porque a resposta que darão a ela precisa ser certa –pensam os jovens, influenciados por nós– e determinará o resto da vida deles. Que responsabilidade, hein!?

    Eles precisam saber, principalmente por meio de seus pais, que a escolha de um curso, seja ele universitário ou técnico, não é tudo isso que os levamos a pensar. Colocada essa escolha em seu devido lugar, a vida para eles pode ficar menos tensa, mais fácil.

    Primeiramente, é importantíssimo que eles saibam que uma profissão não define a pessoa, define apenas sua vida profissional. Parece que deixar clara essa diferença não tem tanta importância assim, não é mesmo? Pois saiba que tem, caro leitor.

    Experimente conversar com jovens que passam por essa fase de escolha e veja como eles ficam atormentados com o fato de que o curso que farão os definirá. "Fico desesperado ao pensar que vou ser conhecido pelo resto da minha vida como engenheiro, físico ou médico", me disse um jovem de 17 anos; "Sou muito nova para saber o que quero ser até o fim da minha vida", comentou uma garota em uma mensagem enviada a mim.

    Ser e fazer, vida pessoal e vida profissional: tais conceitos estão identificados para muitos jovens, o que é um equívoco. Equívoco que, por sinal, é fácil compreender: nós temos aceitado com facilidade que o trabalho é o que de mais importante fazemos, que é o que nos motiva na vida, dá prazer, realização pessoal etecetera e tal, não é? O conceito que eles têm é fruto da observação de nossas vidas.

    Claro que o trabalho é importante em nossa vida: é por meio dele que garantimos nossa sobrevivência, que interferimos na vida em grupo, que ganhamos reconhecimento social. Mas é por meio da vida pessoal que garantimos nosso potencial produtivo, e não o contrário. Podemos, por exemplo, ficar temporariamente sem exercer a profissão, e nesse período a vida pessoal nos ajuda a enfrentar as dificuldades decorrentes dessa situação e até a sustentar um outro trabalho remunerado qualquer. Se os jovens perceberem tal diferença, vai ficar muito mais tranquilo escolher um curso para o vestibular.

    Outra coisa importante que eles precisam perceber: um diploma universitário não restringe a vida profissional, e sim a amplia. Cada profissão pode ser exercida em uma variedade incrível de campos. Os jovens precisam mudar a referência que têm a respeito da escolha do curso universitário. Qualquer curso é uma porta que abre muitas outras, e não que fecha a maioria delas.

    rosely sayão

    Escreveu até julho de 2017

    Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

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