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    Rosely Sayão

    Mão na massa

    23/09/2014 03h00

    Vi a notícia de uma garota de 9 anos que queria fazer aulas de guitarra, mas, apesar de seus pais terem comprado o instrumento, ainda não podiam custear as aulas.

    Como a menina fazia bolinhos –cupcakes– para a família e todos elogiavam o sabor deles, ela pensou em fazer para vender e, assim, ter dinheiro para suas aulas. A mãe ajudou a garota a planejar seu trabalho para colocá-lo em prática e atingir seu objetivo.

    Procurei na internet outras crianças, entre 9 e 12 anos, envolvidas em projetos e, para minha surpresa, encontrei várias delas com trabalhos bem interessantes.

    Um garoto de 12 anos, vegetariano por convicção ideológica, está envolvido com a alimentação saudável para crianças. Ele apresenta um programa de culinária para crianças na web, escreveu um livro e dá palestras internacionais a respeito do assunto.

    Outro, da mesma idade, interessou-se por fotografia e já foi convidado a colocar suas fotos em mostras e exposições.

    Esses exemplos nos permitem pensar nos potenciais que crianças dessa idade têm e que estão represados; as crianças não conseguem colocá-los em ato por falta de oportunidade para descobrir seu interesse.

    Com um projeto a desenvolver, a criança se envolve e aprende, com o processo, a ter disciplina e a se esforçar, a se concentrar, a estudar mais profundamente um assunto. É de uma riqueza imensa essa possibilidade para ela.

    Nos casos que encontrei em minha busca, foi a família a responsável em oferecer um contexto favorável para a criança fazer sua descoberta e em acolher, incentivar e tutelar seu trabalho.

    Nenhuma delas mencionou a escola, em nenhum momento.

    Apesar de não ser surpresa para mim a constatação desse fato, é lamentável que a instituição escolar, tão importante na formação das crianças tanto quanto na transmissão da postura necessária para o contato com o conhecimento sistematizado, não colabore para que seus alunos descubram interesses diversos e aprendam mais com isso.

    Precisamos reconhecer: é bem mais interessante aprender quando se coloca a mão na massa. É dessa maneira que a criança é fisgada em seu interesse, em sua curiosidade, em sua surpresa ao perceber que consegue construir algo importante.

    É assim que ela encontra motivos para se dedicar ao estudo, à compreensão de algo que ela não conhecia, não sabia, não compreendia.

    Nós já sabemos que muitos jovens ficam à deriva quando terminam seus estudos básicos porque não conseguem encontrar motivos legítimos para se dedicar a um trabalho ou aos estudos universitários.

    Aí eles desistem, não persistem frente às dificuldades, não se esforçam, buscam realizações imediatas e ficam à procura de uma fórmula mágica que os motive. Mas sabemos que essa fórmula não existe.

    Então, por que não pedir –exigir!– que a escola atenda a essa necessidade de introduzir seus alunos, desde a mais tenra idade, em situações de aprendizados significativos no desenvolvimento de projetos?

    As ciências da educação já construíram os conhecimentos necessários para tanto e temos exemplos pelo mundo de escolas que aplicam essa metodologia.

    Você não faz ideia, caro leitor, do que seu filho seria capaz, caso a escola engajasse seus alunos no desenvolvimento de projetos.

    rosely sayão

    Escreveu até julho de 2017

    Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

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