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    Rosely Sayão

    Universidade tal como balada

    08/09/2015 02h00

    Quando o aparelho celular –que permitia enviar os já não tão conhecidos torpedos– começou a se tornar popular entre os jovens, muitos comportamentos deles sofreram alterações. Parece que isso foi há muito tempo, mas é um acontecimento do passado recente, que vale a pena relembrar, porque nos ajuda a entender alguns comportamentos dos jovens no presente.

    Uma das grandes descobertas deles, na época, foi a de que os torpedos permitiam que eles aproveitassem melhor a vida, na visão deles. Um bom exemplo é o fato de que os grupos de jovens que se conheciam se dividiam entre as diversas baladas no final de semana. Cada grupo avaliava a frequência, a animação e tudo o mais que rolava e, de posse das informações, transmitia aos demais colegas. Dessa maneira, eles podiam se reunir logo depois no que consideravam a melhor balada da noite.

    Toda essa avaliação ocorria em um curto intervalo de tempo: 10, 15 minutos no local, para eles, já era o suficiente para chegar a alguma conclusão e ficar à espera dos colegas ou ir para um outro local.

    Bem, sabemos que uma festa pode mudar de uma hora para outra: ficar melhor ou pior, e que os motivos para avaliar uma balada como boa ou não é muito pessoal, a não ser que todo o grupo tenha o mesmo objetivo. O fato é que o comportamento de avaliar algo instantaneamente, por não querer correr o risco de esperar e se frustrar, pegou. Não só pegou, como foi transferido para outras situações totalmente diferentes. Frequentar um curso universitário, por exemplo.

    Há um expressivo número de jovens –e esse número está em crescimento– que escolhe um determinado curso, de acordo com seus interesses e, já no primeiro semestre, desiste.

    Os motivos são diversos: eles concluem que o curso não é o que eles haviam imaginado ou que é muito chato; ou conhecem na faculdade um curso que os prepara para uma outra profissão com a qual se identificam mais etc.

    Embora os jovens reajam de diferentes maneiras nas mais diversas situações, é possível encontrar em seu comportamento alguns pontos em comum.

    No caso da opção por outro curso universitário, por exemplo, há os que conseguem aproveitar o curto período na faculdade e amadurecer com isso. Escolhido um outro curso, dedicam-se a ele até o final e se comprometem com o exercício da profissão.

    Um outro grupo demora um pouco mais para amadurecer e realiza nova desistência em outro curso, mas consegue se encontrar na terceira, às vezes quarta, escolha. Esses jovens geralmente recebem o apoio da família –emocional e, sobretudo, financeiro– para trilhar esse percurso.

    Há também os que enfrentam resistência familiar e precisam terminar a faculdade. Muitos deles terminam gostando do curso; outros, nem tanto.

    Mas há um grupo de jovens que deve ser motivo de preocupação, tanto da família quanto da sociedade, que são os que avaliam o curso que escolheram da mesma maneira que avaliariam uma balada: rapidamente, sem querer esperar, sem se esforçar, sem resiliência alguma.

    Esses são os jovens que precisam de nossa ajuda para descobrir que um curso universitário é bem diferente de uma balada, não é?

    rosely sayão

    Escreveu até julho de 2017

    Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

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