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    Rosely Sayão

    Se pais refletirem, perceberão que mais falam do que ouvem seus filhos

    15/03/2016 02h00

    Após conversar com um grupo de mães a respeito da educação familiar, uma delas, que tem três filhos –um já na adolescência–, trouxe uma questão que me fez pensar. "Você não acha que o modo como temos tratado nossos filhos tem criado uma geração alienada de si?", perguntou ela.

    Pensei muito, conversei com outras mães e professores de adolescentes, e o que ouvi me fez pensar mais ainda na pergunta que essa mãe deixou comigo. "Nossos jovens pouco se conhecem, nossas crianças não são ensinadas a lidar com suas emoções –tampouco a identificá-las–, não são estimuladas a se fazerem perguntas sobre seus gostos e vontades, não sabem argumentar a seu favor, nem contra a opinião de seus colegas."

    Em resumo, foram essas as opiniões de quem lida com os mais novos cotidianamente. Sei que não podemos universalizar essas opiniões, mas que podemos nos questionar a respeito de como colaboramos para que muitas crianças e jovens tenham essas atitudes, isso podemos.

    Perguntei a várias mães como elas costumam tratar os pedidos que os filhos lhes fazem. A maioria disse que dá uma resposta negativa ou positiva ao pedido. Algumas, bem-humoradas, disseram que os filhos não pedem: avisam o que querem ou o que irão fazer.

    Vou reproduzir dois diálogos que me foram enviados pelas mães, porque os considerei exemplares nesse sentido. "Mãe, sábado tem festa de aniversário de Fulano, que vai ser lá no salão do prédio dele. Está aqui o convite. Preciso levar um presente." A resposta da mãe foi: "Deixa o convite aí que depois eu vejo". E ela providenciou tudo para que ele fosse à festa. Não perguntou os motivos que fizeram o filho querer ir à festa –comparecer a uma festa só porque foi convidado não é motivo, certo?–, qual a relação de proximidade que ele tinha com esse colega, o que pensava como presente já que o garoto era seu conhecido, por exemplo. Quando apontei a essa mãe tais questões, ela ficou bem surpresa e me disse que nunca havia pensado nisso, nem em como a ausência dessas perguntas colaborava para que o filho não se conhecesse melhor.

    Agora, com a palavra, a mãe de um adolescente. "Meu filho estava com muitas dúvidas sobre qual curso escolher para fazer o vestibular. Eu o enviei a um serviço de orientação profissional, e ele desistiu na segunda vez em que foi. Quando perguntei a ele por que, ele respondeu que não tinha gostado. Insisti, e ele me disse que não é preciso explicar quando não se gosta de algo."

    Se os pais refletirem a respeito dos tipos de diálogos que têm com os filhos, irão perceber que mais falam do que ouvem, que não solicitam que os filhos deem argumentos convincentes para o que querem, que não os ajudam a se conhecer.

    Perguntei a alguns adolescentes se eles gostavam de baladas, e os motivos. Os que afirmaram gostar, disseram: "É legal", "A gente encontra todo mundo lá", "Se não for em balada, a gente vai se divertir como?", por exemplo. Dois disseram não gostar, e os motivos foram "Lá não dá para fazer amizades porque ninguém fala com ninguém", e "Não sou a fim de pegação". Parece que estes se conhecem um pouco mais do que os primeiros, porque seus motivos têm mais a ver com eles, afinal.

    O autoconhecimento é importante na vida, em todos os aspectos. Vamos ajudar nossos filhos e alunos a se conhecer um pouco mais?

    rosely sayão

    Escreveu até julho de 2017

    Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

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