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    Rosely Sayão

    Desencontro na educação faz com que pais reclamem e escolas não reflitam

    10/05/2016 02h00

    Os pais com filhos pequenos estão sempre interessados no desenvolvimento das crianças na primeira infância. Para muitos, a estimulação começa já na gestação, e continua com o crescimento. Há vasta literatura dirigida aos pais a esse respeito, e eles não deixam de consultar todas as novidades para tentar promover um bom desenvolvimento ao filho.

    As escolas de educação infantil têm também a mesma intenção, se bem que não em sua maioria. Novas metodologias são estudadas, escolas que não se ocupam apenas em cuidar da criança pequena –brasileiras e estrangeiras– são visitadas, e a formação dos professores é uma preocupação constante das que querem proporcionar uma educação infantil de qualidade.

    É preciso reconhecer, no entanto, que a maioria das escolas de educação infantil, públicas e privadas, ainda tem caráter assistencialista e/ou conteudista: cuidar da criança e fazer com que aprenda a contar e a reconhecer e escrever algumas palavras, por exemplo, estão entre os principais objetivos das escolas e anseios dos pais. Famílias e escolas têm boas intenções, mas sabemos que isso não basta. E hoje vou apontar uma falha nessas intenções que aparece com frequência: ambas têm lá seus métodos, seus objetivos, sua missão, mas são poucas as que consideram as oportunidades que surgem, muitas vezes trazidas pela própria criança, para educá-la.

    Para ilustrar, vamos a dois exemplos ocorridos com crianças nessa fase, e que envolveram tanto a família quanto a escola.

    No primeiro, um garoto de quatro anos, que gostava de ir para a escola, passou a reclamar para a mãe que apanhava constantemente de um colega de sala e a mostrar muitas resistências para continuar a frequentar a instituição. No segundo, uma garota de cinco anos chegou em casa com um objeto da escola dizendo que havia ganhado da professora. Quais atitudes foram tomadas?

    A mãe do garoto que reclamava das agressões do colega foi à escola, conversou com a professora e o diretor, e tudo o que ouviu foi que o fato não acontecia. A mãe da menina que chegou em casa com algo da escola não falou nem com a filha nem com a escola: devolveu, disfarçadamente, o objeto ao espaço escolar, sem que ninguém visse.

    Será que o menino apanha do colega em sala? Não sabemos. A mãe acredita que sim, a escola acredita que não. Mas uma coisa é certa: algo na escola incomodou o garoto, e dizer isso foi a maneira de comunicar seu mal-estar. A menina ganhou mesmo o objeto da professora? Não sabemos, mas uma coisa é certa: aos cinco anos é preciso dar atenção à formação moral.

    Escolas e famílias têm tido grande dificuldade em debater os pontos que as afetam: pais mais reclamam e exigem providências específicas das escolas do que conversam e ouvem, e as escolas mais se justificam do que refletem sobre as questões que os pais trazem.

    E quem sai perdendo com esse desencontro? As crianças! De nada adianta a escola ter um belíssimo projeto e um excelente planejamento escrito, se não tiver olhar atento às crianças; de nada adianta as famílias se ocuparem com estimulações e a preparação dos filhos para o futuro, se as oportunidades educativas que surgem forem ignoradas. Para finalizar: as crianças percebem claramente como os adultos à sua volta reagem às suas ações e isso influencia bastante sua formação.

    rosely sayão

    Escreveu até julho de 2017

    Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

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