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    Rosely Sayão

    Pais podem e devem vetar consumo de bebidas pelos filhos menores de idade

    30/08/2016 02h03

    Fazer e acontecer, ter fama e sucesso a qualquer custo, ser popular e feliz, estar por dentro de todas as ondas e consumir. São comandos socioculturais fortes que têm sido direcionados aos nossos jovens, diretamente ou mesmo de modo sutil. E eles têm atendido!

    Tais comandos podem ser por eles entendidos em diversos contextos: das redes sociais reais que eles frequentam às redes virtuais em todas as suas formas; do pequeno grupo de amigos e colegas próximos à sala de aula ao grupo de amigos e colegas de toda a escola; das conversas presenciais às conversas via mensagens instantâneas.

    E como conseguir alcançar essas metas que nossa sociedade faz com que almejem? Bem, aí reside um problema que vamos abordar hoje.

    Muitos de nossos jovens, desde o início da adolescência, encontram na bebida alcoólica uma boa estratégia para sair-se bem nessas questões. Segundo dados de pesquisa do IBGE, realizada com 2,6 milhões de estudantes que cursaram o 9º ano do ensino fundamental em 2015, 55% deles já haviam consumido uma dose de bebida alcoólica alguma vez. E é bom saber que, desse grupo pesquisado, quase 90% deles tinham entre 13 e 15 anos na época que o estudo foi realizado.

    Por que o álcool tem sido, para nossos jovens, uma boa estratégia para ajudá-los a encontrar o que eles buscam? É que, no início, os efeitos produzidos pela bebida alcoólica são a euforia e a desinibição no agir e no pensar. E isso é tudo o que eles querem e acham que precisam para "ficar de boa", como eles dizem.

    Nossa sociedade é tolerante quanto ao uso do álcool por menores. Não é pequeno o número de pais que permitem que seu filho beba em casa, antes de ir a festas com os amigos. E, da mesma maneira, é considerável a presença de bebidas em festas de menores de idade, promovidas pelos pais e com o aval deles.

    Os jovens usam uma expressão bem conhecida para nomear o estado em que ficam quando bebem exageradamente: dizem "deu pt", que seria o equivalente à perda total dos sentidos. É dessa maneira que eles se afastam do real sentido do estado em que caem: coma alcoólica. E, assim, permanecem afastados dos riscos do uso da bebida.

    Por que muitos pais permitem e/ou não vetam que seus filhos bebam antes dos 18 anos? Pelo anseio de inserção social dos filhos, por minimizarem a questão da idade e, talvez, por falta de informação.

    Muitos não consideram ou se esquecem de considerar e/ou não dão valor a tais informações, quais sejam: que o álcool afeta o senso de certo e errado, que é enorme o número de vítimas de acidentes de trânsito com envolvimento de bebidas alcoólicas e que a tolerância aos efeitos do álcool é menor entre as pessoas mais novas.

    Mas qual a diferença entre beber aos 16, 17 anos e aos 18, você pode perguntar, caro leitor. E a melhor resposta é o respeito ao rito social.

    Se os pais não permitem o uso de bebida alcoólica pelo filho menor, isso significa que ele não a usará?

    Provavelmente não. Mas dá a ele um norte familiar e, se ele preza a família, é possível que beba menos para não desapontar os pais e não arcar com consequências familiares acordadas, por exemplo.

    Para o bem dos filhos, os pais podem —e devem— vetar o uso de bebidas pelos filhos menores e também o uso abusivo pelos maiores.

    rosely sayão

    Escreveu até julho de 2017

    Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

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