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    Rosely Sayão

    Férias são férias

    13/12/2016 02h00

    Karime Xavier/Folhapress
    Criança brinca no playground do parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo
    Criança brinca no playground do parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo

    Muitas crianças já estão desfrutando das férias: terminaram o ano letivo bem e sabem que seguirão em frente no próximo ano. Alguns desses, entretanto, têm pais que acham que elas precisam continuar com um mínimo de estudos por dia, para não perder o hábito (!).

    Se você é um desses pais, vou pedir que pense melhor nessa história, caro leitor. Criança precisa de espaço e de tempo para desfrutar a infância e, durante o período de aulas, quase não conseguem isso. Vamos deixar que suas férias sejam realmente férias!

    Mas, para outras crianças, a situação é diferente: ainda têm de frequentar aulas para "recuperar" conteúdos de uma ou mais disciplinas que não aprenderam durante o ano. E, como se não bastasse o fato de perderem um tempo precioso de férias, ainda têm de suportar a pressão dos pais.

    Alguns dão longas broncas quase todos os dias, outros tiram a maioria dos entretenimentos da criança e não permitem que façam coisas de que gostam, outros fazem ameaças em relação a viagens de férias, presentes de Natal, essas coisas.

    Esses pais acham que essas estratégias funcionam. Não! Em geral, produzem o efeito contrário, porque levam a criança a ter uma atitude negativa em relação aos estudos.

    Claro que, entre essas crianças e adolescentes, há alguns que não investiram o menor esforço nas aulas para passar de ano. Talvez, a esses, tenha faltado tutela adulta na escola e em casa para que cumprissem com seu potencial.

    Mas muitos deles não conseguiram, de fato, aprender por um motivo que não é deles, e sim do funcionamento e organização escolares. Como já sabemos, os alunos têm ritmos de aprendizagem diferentes e também aprendem de formas diversas. Mas, enquanto a escola continuar a tratar todos no coletivo, produziremos esse fenômeno: o de alunos que têm potencial, mas que não conseguem aprender.

    Aos pais dessas crianças, faço um pedido: não tratem essa situação de seu filho como um desastre, um fracasso. Incentivem, encorajem, desafiem os filhos a aprender, apoiem e, principalmente, passem a eles a ideia de que eles têm capacidade e que vocês sabem disso. Essa pode ser a melhor ajuda dos pais a essas crianças nesse momento.

    Finalmente, há alunos que ficaram "retidos", ou seja, irão, no próximo ano, repetir a mesma série que já cursaram. E, o que é pior: da mesma maneira que foi este ano.

    Os que não conseguiram avançar por falta de um mínimo esforço, só irão conseguir melhorar se tiverem apoio escolar e familiar, no sentido de procurar saber os motivos de a criança não ter aprendido.

    Será o método escolar, a maneira de ele encarar os estudos, problemas de convivência na escola ou em casa que atrapalharam seu potencial de aprendizagem, por exemplo?

    Mas, uma coisa é certa: castigos que fazem sofrer também não funcionam nesses casos, tampouco a decepção e tristeza dos pais em relação ao filho por ele não ter conseguido passar de ano.

    Qualquer que tenha sido o resultado escolar de seu filho, caro leitor, lembre-se: a vida escolar deles não é o fato mais importante da vida deles, tampouco na da família.

    Vamos aliviar um pouco a carga que aprendemos a colocar sobre eles, vamos? E vamos, também, deixar claro que a escola é um problema deles, e não dos seus pais?

    rosely sayão

    Escreveu até julho de 2017

    Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

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