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    Rosely Sayão

    Pais esquecem que filhos não entendem o mundo como adultos

    21/03/2017 02h00

    Kat Grigg/Flickr
    Criança e família
    "Para que a criança cresça, ela terá de aprender a buscar soluções para os problemas que enfrenta"

    Conversar com os filhos é uma atividade muito desejada pelos pais. Como nunca antes, o relacionamento estreito com os filhos e a abertura para que eles participem do que acontece na família tornaram-se ideais buscados com tenacidade pelos pais. Por trás desses elementos, há, quase sempre, a vontade de ter filhos felizes.

    Nessa procura de diálogo constante com os filhos e de muita proximidade com eles, os pais, entretanto, esbarram em alguns pontos que podem atrapalhar o
    desenvolvimento das crianças.

    A primeira questão que se coloca é a dificuldade que têm enfrentado de entender melhor o que significa ser criança. Num mundo jovial como o nosso, parece que todos já nascem jovens, ou seja, prontos para diálogos quase horizontalizados. Vou citar alguns exemplos para que você, leitor, perceba que muitas vezes conversamos com crianças como se elas já tivessem condições de agir e de entender o mundo como nós, adultos.

    Bebês que mal se sustentam em pé e exploram os espaços engatinhando ouvem, com frequência, seus pais ou adultos responsáveis dizerem "não" a eles quando estão prestes a fazer algo que não devem.

    Um bebê não sabe ainda o que significa a palavra "não", mas vai começar a aprender rapidamente. Mas, mesmo quando entender que essa palavra é um comando que sinaliza que ele não deve fazer o que está prestes a fazer, ele ainda não consegue se controlar, conter o impulso que já está atuando em seu corpo.

    Muitos pais, ao testemunharem a persistência da criança mesmo após ouvir o não, acreditam que a criança os está desafiando. Não! Ela está apenas sendo um bebê que ainda não cresceu suficientemente para se controlar. Importante saber que esses pais têm agido assim porque perderam o entendimento do que seja uma criança.

    Outro empecilho que muitos pais colocam para os filhos é o controle excessivo sobre eles. Tudo os pais querem saber, bisbilhotam constantemente a vida dos filhos e, com excessivo cuidado, acabam por
    tolher o desenvolvimento deles. O destino de uma criança é crescer, e fica difícil crescer com insegurança e, cada vez mais, dependência dos pais, não é verdade?

    Uma criança após os seis anos tem condições, por exemplo, de resolver sozinha todos os pequenos problemas que a vida escolar lhe impõe, desde os relacionados aos estudos até os que dizem respeito à convivência no espaço escolar. Mas são poucos os pais que conseguem se conter quando o filho relata problemas: logo estão na escola querendo resolver a situação para o filho.

    Para que a criança cresça, ela terá de aprender a buscar soluções para os problemas que enfrenta, e nem sempre conseguirá de primeira. Mas é assim que ela consegue, aos poucos, testar suas estratégias e aprender quais funcionam de modo adequado e quais resolvem os problemas, mas com consequências não muito boas para ela.

    Tem sido difícil, no exercício da paternidade, encontrar o equilíbrio entre dois opostos: o de ter com os filhos uma proximidade tão grande que acaba por tolher seu desenvolvimento, e o de deixá-los abandonados à própria sorte.

    É preciso insistir na busca desse equilíbrio para que os filhos cresçam com a tutela necessária, com vínculos familiares fortes, mas com espaço para a experimentação da vida e para a construção
    da intimidade pessoal.

    rosely sayão

    Escreveu até julho de 2017

    Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

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