• Colunistas

    Friday, 03-May-2024 20:29:13 -03
    Rosely Sayão

    Namoro adolescente é uma parte da vida que não diz respeito aos pais

    06/06/2017 02h00

    Fotolia

    As peças publicitárias anunciam que mais uma data do mercado de consumo está chegando: o Dia dos Namorados. Vamos conversar a respeito dos namoros dos filhos e da participação dos pais nessa história da vida deles? Para isso tenho, como sempre, dois bons exemplos reais para nos ajudar.

    Carolina tinha 15 anos quando começou a namorar um colega da escola. O primeiro namoro da garota deixou os pais entusiasmados, talvez até demais. Receberam o namorado dela em casa, fizeram questão de conhecer a família dele, e passaram a ter grande proximidade com o grupo. Faziam jantares em casa, saiam juntos, e até programaram uma viagem ao exterior com as duas famílias. Foi durante a viagem que aconteceu a encrenca.

    O casal de adolescentes se estranhou e eles se negaram a sair juntos. Você imagina, caro leitor, que constrangimento para os pais dos dois? O pior foi que a família do garoto entendeu que a "culpa" do acontecimento havia sido da menina –e vice-versa– e um grande problema diplomático entre as duas famílias se instalou. Em resumo: a viagem foi cancelada no meio pelos pais de Carolina e as duas famílias romperam seu relacionamento.

    No outro exemplo, foi um garoto de 17 anos que passou a levar a namorada de 16 em casa. A mãe do menino, separada do pai dele, passou a desenvolver um estreito relacionamento com a adolescente e sofreu demais com o rompimento do namoro do filho. Chegou a negar-se a conhecer uma nova namorada e o rapaz decidiu, então, ir morar com o pai.

    Nós, que já fomos adolescentes, deveríamos lembrar que, nessa fase da vida, os namoros começam e terminam rapidamente; são raros os relacionamentos amorosos na adolescência que perduram até a maturidade.

    É que eles estão numa época de descoberta da amorosidade erotizada e isso os leva a namoros que são, vamos dizer assim, experimentais. Namorando eles se conhecem mais, e também aprendem mais sobre o outro, sobre como administrar conflitos em relacionamentos íntimos e como sobreviver à descoberta de que o outro foi, inicialmente, idealizado. Eles também experimentam, nesses namoros, a vivência de comprometer-se com seus próprios afetos pelo outro, e isso nem sempre é fácil para eles. Mas ajuda a crescer.

    Nos tempos de hoje tornou-se fácil para os pais confundir o que significa ter um vínculo estreito com o filho com ter uma amizade com ele, não é? Talvez tenha sido isso que levou os pais dos exemplos citados a participarem tão ativamente do namoro dos filhos.

    Então, vamos deixar claro para os pais de adolescentes: o namoro é uma parte da vida deles que não diz respeito aos pais. Claro que isso não significa ficar alheio ao fato. O bom é ouvir os filhos se -repito- se eles quiserem conversar sobre esse fato da vida deles e manter uma distância discreta do relacionamento que iniciaram. A tutela dos pais, ainda tão necessária na vida dos filhos, deve continuar, como sempre.

    Isso ajuda o filho a entender que ele é o único responsável por essa parte de sua vida e isso, como eu já disse, ajuda a crescer, amadurece e, em alguns casos, precipita para a vida adulta.
    Para terminar esta conversa, não custa reafirmar: namoro não é coisa de criança. Por isso, nada de fazer referência aos "namoradinhos" dos filhos pequenos, por mais que isso pareça apenas uma graça com eles, combinado?

    rosely sayão

    Escreveu até julho de 2017

    Psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia a dia dessa relação.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024