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    Ruy Castro

    Simples assim

    08/04/2015 02h00

    RIO DE JANEIRO - Quando "Último Tango em Paris", o filme de Bernardo Bertolucci com Marlon Brando, foi lançado com fogos em Paris, em dezembro de 1972, sabíamos que seria proibido aqui. Era o auge da ditadura, e a censura logo mandou o comunicado. Isso não impediu que, na revista semanal em que eu trabalhava, a "Manchete", déssemos capa e oito páginas sobre ele, inclusive com a descrição das cenas mais ousadas. Donde os brasileiros sabiam que "Último Tango" existia, do que se tratava e que não poderiam assisti-lo.

    Duas semanas depois, em janeiro de 1973, deixei a "Manchete" para ser editor da "Seleções" em Lisboa. Portugal, claro, também era uma ditadura, e "Último Tango" estava igualmente proibido por lá. A diferença é que o povo português não sabia de sua existência. A imprensa não podia falar de um filme proibido, nem dizer que estava proibido –porque "não havia" censura em Portugal.

    Já então, "Último Tango" estava interditado em dez países. Em fins de janeiro, o filme estreou em Londres, e seria um crime não ir assisti-lo. Por não ter com quem deixar nossa filha Pilar, de três anos, eu e minha mulher na época viajamos com ela. Como Pilar não podia entrar no cinema, a operação exigiu duas etapas: enquanto um ia ao cinema em Piccadilly, o outro brincava com ela num parque ali perto.

    Vi e não entendi nem o entusiasmo, nem o escândalo. O filme era caótico e oco, com Brando dominando Bertolucci. As cenas de sexo eram gratuitas –a da manteiga provocou gargalhadas na plateia londrina. Era este o filme que, além de nós, os portugueses, espanhóis, mexicanos, chilenos, canadenses e tantos outros levariam anos para poder ver?

    Hoje, 42 anos depois, o DVD de "Último Tango em Paris" está em oferta na Livraria da Folha, por R$ 16,90. Pode ser comprado por telefone. Simples assim.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

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