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    Ruy Castro

    Porque já não dão

    26/08/2015 02h00

    RIO DE JANEIRO - O STF está julgando a liberação do porte de maconha para uso próprio. A favor da medida estão, como sempre, cantores, jornalistas, sociólogos, advogados, surfistas e ex-presidentes que, durante seus governos, nunca tiveram uma política sobre drogas em termos de esclarecimento, prevenção e cura –entre os quais, FHC. Mas o que pensam a respeito os profissionais da saúde, como os médicos e os psiquiatras?

    A entrevista da dra. Ana Cecilia Marques, presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas), à Folha ("População não entende liberação de droga para uso próprio, diz psiquiatra", 21/8), responde a essa pergunta. Merece ser acessada e lida na íntegra. Mas aqui vão alguns de seus principais pontos.

    "A população não entenderá que a liberação é só para uso pessoal. Pensará que liberou geral. * Nos países que aplicaram essa flexibilização, houve aumento de consumo entre adolescentes, de dependência da cannabis e da facilidade para consumir outras drogas. * Fala-se do porte individual, mas onde cada um vai comprar? De empresas que plantem, colham e fabriquem o cigarro. Ou seja, vai-se criar uma indústria da maconha, como a do álcool. * Quem dita a política do álcool no Brasil? A Ambev. Quem ditará a política da droga? A indústria da droga.

    "Onde está escrito que a droga é um problema individual, que não afeta terceiros? * A maconha não é um simples produto. É uma droga psicotrópica, que atinge o córtex pré-frontal, que controla a autonomia. O usuário não controla a quantidade que usa nem os seus atos e muito menos as consequências, que não atingem só a ele.

    "As pessoas vão usar mais, vão pirar mais e não haverá leitos ou serviço de saúde que deem conta dos quadros de intoxicação e dependência –porque, hoje, já não dão."

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

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