RIO DE JANEIRO - A atitude blasée dos jogadores do Barcelona ao vencer o River Plate e conquistar o Campeonato Mundial de Clubes é explicável. Equivaleria no Brasil ao campeão da Série A ter de derrotar o campeão da Série B para se tornar campeão brasileiro. De que importa ao detentor da Liga dos Campeões da Europa –esta, a primeira divisão do futebol mundial– esmagar um pereba chinês e o campeão da Libertadores se só uma zebra tipo elefante faria com que isso não acontecesse?
E pensar que, em boa parte do século 20, foi bem diferente. O futebol brasileiro era respeitado, temido, e seus principais clubes viviam sendo convidados a jogar lá fora. O Flamengo, por exemplo, antes da era Zico, foi à Europa em 1951, 54, 56, 58, 60, 62, 63, 64, 65, 67, 68, 74, 75 e 78, e, a partir daí, as viagens passaram a incluir Oriente Médio, Japão e África. O Santos, na era Pelé, começou a fazer o mesmo, várias vezes por ano –ficava mais tempo no exterior do que aqui. O Botafogo, em muitas ocasiões, idem. As excursões pelas Américas não contavam –eram como ir jogar em Niterói.
Hoje, para sair do Brasil, um time brasileiro precisa disputar a Libertadores ou uma certa Copa Sul-Americana. E cada vez mais os gringos nos impõem as suas marcas –há mais gente nas ruas brasileiras com a camisa do Barcelona que com a de muitas das orgulhosas potências locais.
Nosso futebol sempre abasteceu os clubes europeus –Julinho, Evaristo, Vavá, Mazzola, Amarildo, Paulo Cesar, Falcão, Zico, Junior, Sócrates foram só alguns–, mas a forja de craques não parava. Hoje já exportamos Neymar e não há ninguém como ele à vista.
O futebol brasileiro, que era um invejável produto, tornou-se fornecedor de matéria-prima. E para mercados como o russo, o chinês, o turco –ricos, mas tão marca barbante em futebol quanto o nosso.
É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.