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    Ruy Castro

    O muito e o pouco

    04/01/2016 02h00

    RIO DE JANEIRO - No primeiro dia do ano, a música perdeu dois nomes. Em Los Angeles, morreu a cantora Natalie Cole, 65, filha do pianista e cantor Nat "King" Cole. Em Santos, o compositor e maestro Gilberto Mendes, 93, pioneiro da música erudita contemporânea no Brasil. A morte de Natalie Cole ocupou todos os jornais e TVs brasileiros. A de Gilberto Mendes mereceu uma bela página no "Estadão" e míseras dez linhas ou nem isso nos demais.

    Natalie Cole nunca disse a que veio. Seu sucesso, em 1975, com um rhythm & blues intitulado "This Will Be" – uma bobagem à base de palmas, gemidos e uivos –, só se explicava por seu sobrenome. Nos anos seguintes, teve a infelicidade de cair no visgo de álcool e drogas, durante o qual foi despachada para a zona fantasma, de que só saiu em 1991 com seu bonito dueto virtual com o pai em "Unforgettable", sucesso de Nat em 1951. Problemas de saúde abreviaram seu resto de carreira.

    Na categoria filha, Natalie nunca foi páreo para Liza Minnelli, indestrutível inclusive por si mesma, e conseguia perder até para Nancy Sinatra, que só existiu por um ano, em 1966, à sombra de Frank. A discografia de Natalie cabe num single e ainda sobra espaço.

    Já Gilberto Mendes cobriu um vasto território cultural. A música era apenas uma de suas formas de expressão. Outras eram as palavras e a ação. Isso comportava reger orquestras, computadores, a plateia – como em seu concerto "Santos Football Music" – e o próprio mar (o que, à sua maneira, chegou a fazer). Tipicamente, seus concertos, corais e balés foram mais executados fora do que dentro do Brasil.

    Só o conheci de passagem, em Santos, numa Tarrafa Literária, em 2009. Gilberto falou-me de Orlando Silva e Bernard Herrmann, e com tal originalidade que tive a sensação de estar ouvindo aqueles nomes pela primeira vez.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

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