• Colunistas

    Friday, 03-May-2024 16:40:53 -03
    Ruy Castro

    À sombra da lenda

    21/03/2016 02h00

    RIO DE JANEIRO - Frank Sinatra Jr., que morreu de infarto quarta-feira (16/3) aos 72 anos, na Flórida, deve ter sido, na categoria filho, um dos homens mais infelizes que já existiram. Ser filho de uma lenda -Frank Sinatra, o maior e mais poderoso cantor popular do século 20- já seria suficiente para esmagá-lo. Mas Frank Jr. enfrentou também desventuras reservadas só a ele, e sem ter feito nada para merecê-las.

    Quando seus pais se divorciaram, em 1951, ele tinha a idade crítica de sete anos -suas irmãs, Nancy, já com 11, e Tina, com apenas três, foram menos afetadas. O divórcio numa família ítalo-americana, católica e com alma de classe média, no começo dos anos 50, não era uma coisa simples. Imagine então saber que seu pai deixou sua mãe para se casar com a mulher mais desejada do mundo -Ava Gardner.

    Segundo suas irmãs, o adolescente Frank Jr. dedicou-se a idolatrar o pai ausente e omisso, e, em troca, recebia indiferença. Aos 19 anos, em 1963, quando começava a se lançar como cantor, foi sequestrado na Califórnia. Sinatra pagou o resgate, mas Frank Jr. nunca se livrou da história, inventada por um dos bandidos, de que o sequestro fora um golpe publicitário. Por aqueles mesmos dias, os Beatles estouraram nos EUA e o mercado se fechou -para sempre- para jovens cantores de smoking à frente de uma big band.

    Frank Jr. sustentou pela vida uma carreira opaca, à sombra de Sinatra. Sabia todo o repertório do pai, imitava-o em cada gesto, inflexão ou jeito de usar o chapéu, e cantava bem, mas as pessoas diziam: "E daí?". Sequer teve uma carreira amorosa à altura -nunca namorou famosas, só se casou uma vez e por breve tempo, e sofreu processos de paternidade por desconhecidas.

    Diz-se que, em jovem, era um prodígio ao piano. Mas o mundo estava muito ocupado para escutá-lo.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024