RIO DE JANEIRO - Uma feira de tecnologia em Austin, nos EUA, apresentou um novo e revolucionário tipo de drone. Você sabe o que é um drone: um robô voador movido por controle remoto. No formato tradicional, parece um inseto gigante e tem sido usado tanto para filmar casamentos e aniversários quanto para soltar bombas sobre terroristas. O modelo recém-inventado poderá seguir o seu dono para fotografá-lo e filmá-lo aonde ele for.
O dito drone parece inofensivo –uma espécie de sucedâneo do pau de selfie, permitindo que a pessoa dê vazão ao seu narcisismo, na crença de que o mundo não pode perder um minuto de seus deslocamentos pelo planeta. Poderá também substituir o cachorro como companheiro de caminhadas, com a vantagem de um drone não latir para outros drones e dispensar o saquinho plástico para recolher dejetos.
Mas, como sempre, logo descobrirão nesse drone utilidades não previstas no manual. Uma, aliás, já foi cogitada: a de monitoração e escuta de elementos suspeitos. Ele tornará superado o clássico indivíduo que finge ler jornal numa esquina e complementará o serviço de escuta telefônica, gravando ao vivo e com som direto o áudio do investigado.
Você perguntará: "Mas o camarada não desconfiará de que um drone o está seguindo?". Não. O drone-espião será quase invisível, como os gravadores e câmeras de hoje, que cabem num batom ou caneta. Entrará por portas e janelas, subirá por elevadores e pairará insuspeito em gabinetes onde se tramam tenebrosas transações.
Além disso, o grau de certeza de impunidade chegou a tal ponto que alguns só faltam desafiar a lei a grampeá-los. Conspiram, emitem bravatas e despejam impropérios com a prepotência dos que se julgam acima de um flagrante. E, quando esse flagrante acontece, ficam ofendidíssimos.
É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
quartas, sextas e sábados.