• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 12:49:34 -03
    Ruy Castro

    O apogeu aos 19

    21/05/2016 02h00 - Atualizado às 13h25 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    RIO DE JANEIRO - "Casablanca", o filme de 1942 com Humphrey Bogart, é quase uma unanimidade do cinema — difícil encontrar quem não goste. A ação, como se sabe, se passa no Rick's, a boate-cassino em Casablanca frequentada por aventureiros internacionais, franceses colaboracionistas e os oficiais nazistas que ocupavam a região na Segunda Guerra. Há dias, morreu a última sobrevivente do elenco: a francesa Madeleine Lebeau, aos 92 anos. Tinha 19 quando fez o filme.

    Seu papel era curto, mas marcante: o de Yvonne, a garota francesa que entra no Rick's de braço com um inimigo. Isso provoca uma discussão que resulta no duelo de hinos patrióticos: os alemães cantando "Die Wacht am Rhein" e os franceses, "A Marselhesa". A força deste último inflama o nacionalismo dos franceses, inclusive o de Yvonne, que chuta o alemão e grita em close "Vive la France! Vive la démocratie!".

    Na vida real, Madeleine acabara de viver uma situação que parecia tirada de "Casablanca". Ela e seu marido, o ator Marcel Dalio, famoso pelo clássico "A Grande Ilusão" (1937), de Jean Renoir, tinham deixado a França pouco antes da Ocupação e se refugiado no México, onde esperaram longamente por um país que os acolhesse. Tal país foi os EUA e os dois acabaram em "Casablanca", em que Dalio interpretou (sem crédito) o crupiê do Rick's.

    Depois do filme, eles se separaram. Dalio consolidou sua carreira americana e Madeleine voltou para a Europa, onde se casou com Tullio Pinelli, roteirista de Fellini em suas obras-primas dos anos 50/60, como "A Estrada da Vida", "A Doce Vida", "8 ½". Nesta última, de 1963, Madeleine contracena com Marcello Mastroianni num papel em que interpreta... Madeleine, uma atriz francesa.

    Podia haver melhor papel para uma menina que conheceu o apogeu aos 19 anos e teve outros longos 73 para se lembrar disto?

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024