• Colunistas

    Friday, 03-May-2024 21:37:59 -03
    Ruy Castro

    Abanar o rabo

    20/08/2016 02h00

    Michael Sohn - 9.ago.2016/Associated Press
    United States' Ryan Lochte prepares before a men's 4x200-meter freestyle heat during the swimming competitions at the 2016 Summer Olympics, Tuesday, Aug. 9, 2016, in Rio de Janeiro, Brazil. (AP Photo/Michael Sohn) ORG XMIT: OSWM458
    O nadador americano Ryan Lochte, que afirmou ter sido assaltado no Rio; polícia desmentiu depoimento

    RIO DE JANEIRO - Os americanos gostam de acreditar que é feio mentir. Richard Nixon, por exemplo, renunciou à presidência em 1974 porque mentiu no caso Watergate. A história ensina, no entanto, que, nos EUA, o crime não é mentir, mas ser apanhado mentindo. E, mesmo assim, nem sempre – John Kennedy, Lyndon Johnson, Ronald Reagan, Bill Clinton e George W. Bush também foram apanhados e continuaram na Casa Branca.

    Ao dizer que fora assaltado no Rio, o nadador Ryan Lochte mentiu para uma cidade que o recebia e admirava. Isso provocou uma comoção – imagine, um atleta americano assaltado em plena Olimpíada! — e mobilizou um enorme efetivo da polícia. Os jornais e TVs dos EUA somaram a palavra do seu atleta à habitual má vontade para com o Brasil, não viram o que discutir, e tome manchetes.

    A reviravolta da história levou a imprensa americana a rever a maneira de tratá-la, pena que sem o estardalhaço da primeira versão. Ao Rio, satanizado em suas reportagens, deveria ter correspondido uma descrição completa de Lochte como arrogante, vândalo, fujão, covarde e mentiroso.

    Tendo contra si todos os vídeos, testemunhos e até a confissão de seus colegas de esbórnia, Lochte ofereceu desculpas pífias à cidade e ao país. Reduziu o episódio a uma farra que fugiu do controle, omitiu o principal — sua mentira sobre o assalto — e mentiu de novo ao dizer que foi extorquido e ameaçado.

    Mas Lochte parece saber com quem está lidando. Mário Andrada, diretor de comunicação do Comitê Rio-2016 — o mesmo funcionário que se apressou a pedir perdão aos EUA quando o caso começou —, aceitou correndo essas desculpas e exerceu o seu complexo de vira-lata ao também reduzir o caso a uma estudantada. Donde, desde já, fica autorizado a abanar o rabo para Ryan Lochte na próxima Olimpíada em que se encontrarem.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024