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    Ruy Castro

    Amigos e ideias

    26/08/2016 02h00

    14.ago.1959/Folhapress
    SÃO PAULO, SP, BRASIL, 14-08-1959: O jornalista Otto Maria Carpeaux, autogrofá o livro "História da Literatura Ocidental", primeiro de uma coleção de cinco volumes, na Livraria Teixeira, em São Paulo (SP). (Foto: Folhapress)
    Otto Maria Carpeaux autografa o livro "História da Literatura Ocidental" em livraria em São Paulo

    RIO DE JANEIRO - Um pesquisador carioca, Bruno Gomide, encontrou semelhanças entre um texto de 1936 do ensaísta alemão Walter Benjamin (1892-1940) e outro, de 1942, do austríaco-brasileiro Otto Maria Carpeaux (1900-1978), a respeito de certo escritor russo. Ainda que a contragosto, Gomide arrisca que Carpeaux —que veio para o Brasil em 1939, fugindo do nazismo— teria plagiado Benjamin, então desconhecido por aqui. E que isso pode pôr sob suspeita toda a monumental obra crítica de Carpeaux.

    Será? Há tempos, revirando velhas pastas de recortes, saiu-me uma crônica de Carlos Heitor Cony, de 1962 ou 63, no "Correio da Manhã", intitulada "Eruditos & eruditos". Nela, Cony fala de dois colegas do "Correio": Carpeaux, então articulista do jornal, e o poeta e editorialista José Lino Grünewald.

    Cony conta como José Lino, todos os dias, antes de ir trabalhar, varejava os sebos da rua São José e sempre chegava ao jornal com um livro de autor desconhecido, de qualquer época e em qualquer língua. Ao mostrá-lo a Carpeaux, este dizia que já o conhecia, resumia o seu conteúdo e derramava erudição sobre o autor. E, quando José Lino ia conferir, batia com tudo que Carpeaux dizia.

    Até que José Lino descobriu uma preciosidade: um livrinho em francês, "Pages Choisies", de um ensaísta alemão de quem ele nunca ouvira falar: Walter Benjamin. Folheou-o, impressionou-se e levou o livro para o jornal. Logo ao chegar, disparou: "Carpeaux, você conhece Walter Benjamin?". Carpeaux respondeu: "Conheço. Era meu amigo". E deu-lhe mais uma aula.

    Não sei se Carpeaux plagiou Benjamin. Só sei que foram contemporâneos e dividiam as mesmas rodas na Berlim e na Paris dos anos 30. E, se eram amigos, quem sabe não dividiam também as mesmas admirações, os mesmos conceitos e até as mesmas palavras?

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

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