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    Ruy Castro

    Conspiração de silêncio

    17/09/2016 02h00

    Ana Ottoni-8.dez.1994/Folhapress
    ORG XMIT: 102001_0.tif Música: o compositor e maestro brasileiro Tom Jobim posa para fotos em sua casa, no Rio de Janeiro (RJ). (Rio de Janeiro (RJ), 08.12.1994. Foto de Ana Ottoni/Folhapress. Negativo: SP 18997-1994)
    O compositor e maestro Tom Jobim em sua casa, no Rio de Janeiro

    RIO DE JANEIRO - Semanas depois da morte do engenheiro de som Rudy Van Gelder, responsável pela gravação de tantos grandes discos de jazz, a música popular – o que resta dela – pode ter perdido outro baluarte: o arranjador alemão Claus Ogerman, famoso por sua parceria com Tom Jobim. Esta é a notícia que circula em surdina pelas internas: Claus Ogerman morreu. Mas ninguém sabe quando, onde e como. Pior: ninguém confirma ou desmente oficialmente a informação.

    Se é verdade que ele morreu, por que isso deveria ser mantido em segredo? A página de Ogerman na Wikipédia registra sua data de nascimento – 29/4/1930 – e arrisca a de falecimento: 2016, sem nenhum outro dado. Ao mesmo tempo, o site da gravadora Verve, que hoje controla 90% de sua obra, não acusa sua morte. Os amigos que ligam para seu escritório em Munique, na Alemanha, só recebem o silêncio como resposta.

    Dois importantes colegas americanos de Claus, um produtor e o outro, também engenheiro de som, garantem que ele morreu. Mas não querem ser citados, o que reforça a ideia de uma conspiração de silêncio. Produtores, músicos e cantores que trabalharam com Claus nos últimos dez anos comentam que ele se queixava de estar velho e doente. Mas quantos, aos 86 anos, não fazem o mesmo?

    Ogerman era um arranjador ativo, mas algo opaco, na Alemanha e nos EUA, quando, em 1963, o produtor Creed Taylor o acoplou com Tom Jobim para a gravação de "The Composer of 'Desafinado', Plays". O resto é história. Ogerman pôs no papel as cordas que, para mim, Jobim sempre teve na cabeça e, juntos, fizeram o primeiro LP de Tom com Frank Sinatra, a obra-prima "Wave" e mais cinco discos, todos fabulosos. Outro de seus troféus foi "Amoroso", de João Gilberto.

    Se existem casamentos no céu, o de Claus Ogerman com a bossa nova foi um.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

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