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    Ruy Castro

    O culpado é..

    09/11/2016 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Dilma faz sua defesa diante dos senadores na segunda, 29. Petista é condenada por 61 votos a 20; Temer assume cargo definitivamnte
    A ex-presidente Dilma Rousseff durante o julgamento do impeachment no Senado Federal

    RIO DE JANEIRO - A ex-presidente Dilma Rousseff disse à repórter Natuza Nery, em Porto Alegre, que planeja escrever um romance policial. "Gosto muito. Li muito", revelou ela.

    O romance policial parece fascinar os ex-presidentes. Em 1983, fui a Guarujá pela Folha entrevistar Jânio Quadros sobre não me lembro o quê. A conversa descambou para a literatura e ele me levou a uma estante no fundo de um corredor, abarrotada de romances policiais. Eram livros de bolso em inglês, em lindas edições dos anos 50, com capas dramáticas e berrantes.

    Jânio preferia a velha escola europeia, mais sofisticada. Tinha Sherlock completo, claro; Poirot e Miss Marple, de Agatha Christie; o padre Brown, de G.K. Chesterton; Fu-Manchu, de Sax Rohmer; Bulldog Drummond, de Sapper; Philip Trent, de E.C. Bentley; Raffles, de E.W. Hornung; e Arsène Lupin, de Maurice Leblanc. Tudo às dezenas. Dos modernos, o John LeCarré de "O Espião que Saiu do Frio".

    Entre os americanos, idem, só os mais cerebrais: Philo Vance, de S.S. Van Dine; Charlie Chan, de Earl Derr Biggers; Ellery Queen, de Frederic Dannay e Manfred B. Lee; Perry Mason, de Erle Stanley Gardner; Mr. Moto, de J.P. Marquand; Nero Wolfe, de Rex Stout. Não gostava dos autores de ação, como Dashiell Hammett, Raymond Chandler, James M. Cain — eu sei, porque perguntei a ele.

    Jânio também queria escrever um policial. Mas não teve tempo porque, em 1985, elegeu-se prefeito de São Paulo. Já Dilma pode ir em frente, pelo menos enquanto não se tornar, ela própria, personagem de uma trama parecida com as que diz ter lido. Aliás, seria um achado digno dos clássicos do gênero: a autora que é, ao mesmo tempo, condutora e objeto de uma investigação sobre um grande esquema criminoso. No último capítulo, com todos os suspeitos numa sala, ela revela que o culpado é... não sabe.

    ruy castro

    É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,
    quartas, sextas e sábados.

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